Na sequência de um elaborado assalto à biblioteca da Universidade de Princeton, os manuscritos originais dos cinco romances de F. Scott Fitzgerald são roubados e desaparecem sem deixar rasto. De início, os ladrões parecem ter cometido erros evidentes e dois deles são presos quase de imediato. Mas as pistas esmorecem e, sem um rasto a seguir, as atenções voltam-se para o outro lado do negócio. Bruce Cable, proprietário de uma livraria em Camino Island, é conhecido por negociar livros raros e há uma pista que aponta na sua direcção. Mas, sem provas suficientes, exige-se discrição para obter respostas. E é aqui que entra em cena Mercer Mann, escritora em bloqueio criativo e desesperadamente necessitada de dinheiro.
Tendo como ponto de partida o elaborado esquema do assalto, para seguir depois para um cenário distinto e uma outra faceta do caso, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, por abranger tantas e tão diferentes personagens. Da equipa de ladrões à construção da vida de Bruce Cable, passando é claro por Mercer, pelos seus empregadores e até pelos escritores que povoam Camino Island, há todo um conjunto de figuras interessantes e invulgares. Algumas, cativam pelo carisma, pelos sucessos atingidos ou pelo sonho que insistem em alimentar. Outras pelas suas facetas mais bizarras. E, sendo que nenhuma delas é perfeita, todas acrescentam algo de bom ao enredo, ficando até, nalguns casos, uma certa pena quando acabam por passar para segundo plano.
Ora, com tantas personagens, é apenas natural que algumas assumam o protagonismo, enquanto outras se vão esbatendo. E, se fica uma certa curiosidade insatisfeita acerca de algumas dessas figuras, nomeadamente o grupo de escritores com os seus distintos projectos, também é verdade que não são eles o cerne da história. Quanto a esse - os manuscritos de F. Scott Fitzgerald, com o seu roubo e recuperação - nada de relevante fica por dizer. E, se é previsível que haja uma resolução definitiva, já a resolução em si é totalmente inesperada.
O que me leva a outro dos pontos fortes: a capacidade de surpreender. Sendo a linha central da história a aproximação e infiltração no meio de um possível suspeito, é inevitável - pelo menos para a protagonista - que haja uma certa separação entre bons e maus. Só que essa separação não é tão clara como parece e, à medida que Mercer vai descobrindo isso, também as circunstâncias evoluem, com a consequente sucessão de dilemas pessoais, escolhas difíceis e situações surpreendentes.
Trata-se, pois, de um livro intrigante e surpreendente, que mistura o crime e o mundo dos livros numa fusão intensa e delicada. Envolvente, com uma fluidez quase viciante e um enredo cheio de surpresas, uma boa leitura.
Título: O Manuscrito
Autor: John Grisham
Origem: Recebido para crítica
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