quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Pollyanna (Eleanor H. Porter)

Enviada para viver com a tia após ter perdido os pais, Pollyanna não teria à partida muitas razões para ficar contente - até porque a sua tia Polly é uma mulher amarga e obcecada pelo dever. Mas, em tempos, o pai ensinou-lhe um jogo e isso fez com que Pollyanna começasse a procurar em toda a parte razões para ficar contente. Agora, chegada à sua nova casa, Pollyanna começa a espalhar alegria por todos aqueles que encontra. E, se todos começam por a ver como uma criança invulgar, a sua persistência na alegria cedo começa a influenciar os outros. E a vida das pessoas começa a mudar...
É provavelmente na inocência que está o aspecto mais cativante deste livro. Na inocência de uma criança que, tendo perdido quase tudo, se agarra a um optimismo quase absurdo que não só a ajuda a lidar com os obstáculos como a leva a querer espalhar alegria por todos. O Jogo do Contente, tão essencial à linha desta história, pode parecer, pelo menos a um olhar adulto, um exagero, pois, por mais motivos que se possam procurar, não basta ficar contente para que os problemas se desvaneçam. Mas há em tudo isto uma inocência enternecedora e uma mensagem muito positiva de optimismo e determinação, pois é certo que também na vida de Pollyanna os problemas não desaparecem pela simples força do pensamento - mas tornam-se decerto mais fáceis de suportar.
É uma história muito simples, tanto nos acontecimentos como na forma como são contados. O problema de Jimmy Bean, o misterioso passado da tia Polly e até o mau feitio do senhor Pendleton - tudo isto contém enigmas que desvendar ou situações para desenredar, mas tudo acontece com a máxima simplicidade. E sim, claro que isto pode deixar, por vezes, a sensação de algumas coisas parecerem demasiado fáceis, mas também faz um certo sentido. Ou não fosse esta a história de uma menina capaz de mudar o mundo com a sua simples alegria.
Talvez não seja uma visão particularmente precisa do mundo, já que o optimismo inabalável de Pollyanna colide com um mundo onde, por vezes, procurar a alegria não chega. Ainda assim, importa lembrar que este é um livro juvenil e, assim sendo, falar de optimismo, de inocência e de procurar forças mesmo nos momentos difíceis não pode senão ser uma boa premissa. Além disso, quando a alegria feroz de Pollyanna colide com a amargura da tia, com o mau humor de John Pendleton ou com a simples confusão das outras personagens, o resultado é também uma série de momentos divertidos, o que acrescenta a toda a ternura e inocência da história o potencial para umas boas gargalhadas.
Percebe-se, pois, o porquê de esta história simples e enternecedora ser considerada um clássico. É que, com a sua mistura eficaz de leveza e inocência, humor e ternura, simplicidade e optimismo, contém em si uma base essencial de valores que tem tudo para cativar leitores de todos os tempos e idades. Basta isso, pois, para que a leitura valha a pena. E já é muito.

Título: Pollyanna
Autora: Eleanor H. Porter
Origem: Recebido para crítica

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