Devia ter sido uma cirurgia simples, mas uma sequência de erros e acasos acabou por levar à morte na mesa de operações de um estimado membro do pessoal do hospital. Agora, todos procuram atirar as culpas para outro lado e cabe ao doutor Noah Rothauser investigar e apresentar o caso na conferência de morbilidade e mortalidade. E se bastavam os erros para tornar a situação delicada, os egos envolvidos dificultam-na ainda mais. O cirurgião responsável, alimentado por rancores passados, quer a todo o custo atirar as culpas para cima da anestesiologista, Ava London, com quem Noah sente uma certa empatia. Só que aquela é apenas a primeira de várias mortes relativamente próximas envolvendo a doutora London - e também Noah começa a questionar...
Explorando diferentes possibilidades e aspectos da ética nas boas práticas médicas, uma das principais qualidades deste livro prende-se com as várias questões relevantes que vão surgindo ao longo do caminho. Desde a forma como os interesses económicos moldam a marcação das cirurgias à temática dos suplementos nutritivos, passando, é claro, pelo impacto dos avanços tecnológicos na linha que separa o real do virtual e a verdade da mentira, há todo um conjunto de questões a surgir ao longo do enredo e todas elas são dignas de reflexão. Tantas, aliás, que, por vezes, fica a sensação de uma certa dispersão, já que o evoluir dos acontecimentos acaba por deixar algumas outras facetas para segundo plano.
Esta diversidade de temas tem também o condão de tornar o enredo imprevisível. No início, o cerne parece estar na descoberta de um possível responsável para a morte ocorrida ou na exploração dos problemas do hospital. Mas eis que novas relações se criam e a história desvia-se para um rumo diferente, abordando novos temas e abrindo caminho a novas possibilidades. De súbito, ninguém é quem parecia ser e a posição de Noah torna-se cada vez mais delicada à medida que novas revelações vêm à tona, culminando num final completamente inesperado.
E é aqui que surgem os sentimentos contraditórios. É que há tantos temas pertinentes e um enredo tão intrigante que a forma como tudo termina, deixando, talvez, demasiado em aberto, acaba por não ser totalmente satisfatória. Fazendo, embora, um certo sentido, e surpreendendo até, pois fecha a história de uma forma que, sendo tudo menos limpa, é também tudo menos previsível.
Envolvente, relevante e cheio de surpresas, trata-se, pois, de um livro onde nem tudo (nem todos) encontra o final desejado, mas que, com o seu enredo intrigante, protagonistas surpreendentes e revelações inesperadas, cativa desde o início e nunca deixa de surpreender. O que é mais do que suficiente para fazer desta uma boa leitura.
Título: Charlatães
Autor: Robin Cook
Origem: Recebido para crítica
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