John Constantine cometeu muitos erros na vida e talvez por isso sinta que chegou a altura de pagar. Mas também sabe que a prisão é o seu próprio tipo de inferno e que, para sobreviver, terá que despedaçar as regras instituídas e impor as suas próprias regras. Ora, Constantine é um tipo invulgar: à chegada parece vulnerável e não parece ter um talento especial para fazer amigos. Mas tem também alguns talentos únicos essenciais para a sua ascensão ao poder. Pois quem melhor do que um mágico para impor regras no inferno?
Pertencendo a uma série muito extensa e, consequentemente, a uma muito longa caminhada no que diz respeito à vida do protagonista, um dos primeiros aspectos a destacar neste livro é que, conheça-se ou não John Constantine de outras andanças, é perfeitamente possível tirar o máximo partido da leitura. A história desenrola-se toda ela em ambiente fechado e contém em si um ciclo completo. Além do mais, Constantine é um enigma que chega e parte como tal. Por isso, não fica curiosidade insatisfeita, pois a linha central do enredo encerra de forma satisfatória, mas antes uma vontade irresistível de conhecer mais das suas aventuras.
Também a arte parece ajustar-se na perfeição ao ambiente fechado e opressivo em que o enredo decorre. Da cor às expressões das personagens, passando, é claro, pelos inevitáveis momentos de violência, loucura e caos, tudo parece encaixar da forma certa para transmitir o ambiente sombrio e perigoso da penitenciária e o choque de tensão, conflito e... bem... insanidade aí reinante. Além disso, tendo em conta a precisão cirúrgica dos diálogos e monólogos, que contam apenas o que não é possível captar das imagens, o equilíbrio atingido é algo de delicado e eficiente - ainda que necessariamente também sombrio e perturbador.
Mas voltando a Constantine. Sendo ele uma personagem capaz de "alguns truques", e sendo isto algo conhecido mesmo para quem se está a estrear na série, surpreende a forma igualmente discreta e devastadora que a magia toma para se manifestar. O poder nunca é verdadeiramente afirmado, mas apenas insinuado nalguns diálogos. E todavia, quando se manifesta, o resultado é impressionante. Surge, então, uma visão diferente da magia: menos rituais, menos gestos dramáticos, mas poder e fantasmas em abundância - o que é também um aspecto crucial da história.
Tudo somado, fica naturalmente a melhor das impressões. A de um livro que, pertencendo a um todo mais vasto, constitui também um todo em si mesmo - e que, cativante em todos os seus aspectos, deixa uma intensa vontade de conhecer os outros volumes. O mais rápido possível, de preferência.
Título: Hellblazer: Na Prisão
Autores: Brian Azzarello e Richard Corben
Origem: Recebido para crítica
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