1943. Vivem-se tempos perigosos em Berlim, com a ameaça dos ataques aéreos a pairar sobre as cabeças de todos. É por isso que os pais de Magda Ritter decidem mandá-la embora, em busca de trabalho noutro local. Só que esse trabalho não é tão seguro quanto julgavam. Magda é recrutada para ser uma das provadoras de Hitler, o que significa um treino exaustivo, mas também um perigo constante. Principalmente porque, embora poucos no exterior o saibam, a solidez do regime começa a desmoronar. E embora o seu papel de provadora comece por ser apenas um trabalho, ainda que perigoso, à medida que começa a ver as duras verdades que nunca conheceu, Magda vê-se envolvida numa conspiração que, se bem-sucedida, poderá, talvez, salvar o pouco que resta.
Dividido entre a história pessoal de Magda (e, mais tarde, do seu interesse amoroso) e um cenário global em risco de colapso, este é um livro que começa por marcar mais pelo que mostra do mundo do que propriamente pelas suas personagens. E o que mostra parte precisamente de Magda e do mundo que a rodeia. Apesar da guerra, o mundo parece continuar a girar à volta do partido, ante a indiferença geral, e posta perante a necessidade de se filiar no partido para poder trabalhar, essa escolha surge como meramente pragmática. A primeira impressão é, pois, a de uma indiferença generalizada que, tendo em conta o contexto da época, não pode parecer outra coisa que não realista.
Não surpreende, por isso, que não haja propriamente uma empatia imediata, embora seja naturalmente compreensível a cedência inicial de Magda ante a necessidade de ganhar a vida. Mas esta é uma história sem heróis absolutos. Magda e o seu apaixonado das SS nunca poderão ser figuras perfeitas tendo em conta a profissão que exercem. Mas, à medida que a história evolui, as conspirações ganham forma e as escolhas se tornam realmente difíceis, começam a vir à tona os verdadeiros valores. É nesse momento que as personagens deixam a sua marca e o impacto da história se intensifica.
E, claro, tudo converge para um final sobejamente conhecido - embora com uma reviravolta inesperada. Mas o mais notável neste livro é a forma como o autor parece conduzir os acontecimentos num crescendo de intensidade, acrescentando picos de emoção a uma situação só de si tensa e abrindo inclusive perspectivas diferentes para figuras cuja natureza e temperamento não são propriamente novidade.
Não, não é uma história de personagens admiráveis. Mas, às vezes, são os gestos que justificam essa admiração. E, nesta história de personagens falíveis em circunstâncias inimagináveis, é isso o que realmente fica na memória: as personagens que tentam fazer o que está certo mesmo quando todas as escolhas parecem erradas. Cativante, surpreendente e com alguns momentos realmente notáveis, uma boa leitura.
Título: A Provadora
Autor: V. S. Alexander
Origem: Recebido para crítica
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