Helen Grace desceu ao inferno e voltou, mas a sua vida nunca mais será a mesma. Onde antes havia uma confiança imbatível, há agora suspeita e instabilidade. Mas nunca como agora Helen precisou tanto de estar no seu melhor. Há um par de assassinos à solta e o que parece movê-los é um furioso plano de vingança. Numa corrida contra o tempo, Helen e a sua equipa terão de concentrar todos os seus esforços no caso, pois cada momento perdido pode significar uma nova vítima. E cada fracasso é uma nova dúvida numa base já bastante abalada.
Começo pelo evidente: é sempre uma maravilha reencontrar Helen Grace e a sua equipa (mas principalmente Helen). Ainda assim, e tendo em conta os acontecimentos do último volume, as expectativas eram particularmente elevadas e as possibilidades particularmente delicadas. Não foi propriamente uma surpresa, por isso, quando, após um primeiro vislumbre do impacto do passado recente, o caso seguiu um rumo (salvo raros momentos de abertura) menos pessoal. A surpresa vem depois, quando, embora concentrada no caso e na inevitável corrida contra o tempo, os inevitáveis paralelismos e as cicatrizes do passado começam a vir à superfície. E no fim... Bem, no fim, naquele momento em que pensamos que desta vez o coração vai sair um bocadinho menos abalado desta vez, é quando as verdadeiras sombras vêm à tona, e é isso que torna o final tão impressionante.
Chegados a este ponto da série, talvez não seja preciso dizer muito sobre as personagens. Complexas, falíveis, fortes na essência, mas com as vulnerabilidades que tanto as humanizam, deixam em cada momento a sua marca específica. E, claro, Helen é Helen, com todos os seus demónios e cicatrizes. Mas o mais impressionante aqui é a delicada mistura de familiaridade e de mudança: familiaridade, porque as personagens mantêm ainda e sempre a sua identidade essencial; mudança, porque as experiências vividas projectaram-nas para uma perspectiva diferente. E isto não se aplica apenas a Helen, mas também à sempre ambígua Emilia Garanita.
Mas, claro, há o caso em si e, embora seja a linha mais global o que mais marca quem acompanha a série desde o início, este caso em específico tem também muitos aspectos notáveis. Como sempre, é uma investigação com princípio, meio e fim - e, principalmente, com muitas surpresas, reviravoltas, momentos de tensão e perigo e uma visão muito precisa da mente dos criminosos. Além disso, e também como habitual, nunca se trata de um caso fácil, não só em termos de apanhar os responsáveis, mas da própria entrada nos seus pensamentos. Ao entrar na mente de Daisy, Helen chega até a ver-se a si mesma. E é aqui, no ponto em que as duas facetas da história convergem, que nasce a verdadeira marca deste livro.
Helen pode não ser a mesma desde Holloway. Mas as sombras tornaram-na (ainda) melhor. E isso reflecte-se nesta história intensa, sombria e absolutamente viciante, em que a história pessoal da protagonista se alia a um caso complexo e surpreendente para dar forma a um livro genial. Recomendo, pois claro. Como sempre. E mal posso esperar para ver o que vem a seguir.
Título: Mal Me Quer
Autor: M. J. Arlidge
Origem: Aquisição pessoal
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