Há cinco anos, Jesse Custer voltou-se subitamente para a Igreja. Agora, em plena crise de fé, está prestes a descobrir todo um novo significado para a religião. Possuído por uma poderosa criatura, alegadamente fruto da relação entre um anjo e o demónio, Jesse dá por si com o poder da palavra de Deus - quando ordena, todos têm de lhe obedecer. Já Deus, esse... bem, deixou tudo para trás e desistiu. Ora, Jesse não está disposto a aceitar isso e não descansará enquanto não o encontrar e lhe disser umas quantas verdades na cara...
Não é propriamente fácil descrever este livro sem contar demasiado, já que as várias surpresas ao longo do percurso são parte do que torna tudo tão intenso. Mas uma boa palavra para começar seria fascinante. E em múltiplos aspectos, que vão desde a expressividade e a aura de mistério que envolve o desenho, particularmente no que toca às expressões de algumas personagens, à sequência de revelações inesperadas ao longo do enredo, sem esquecer, claro, todo o contexto em torno de fé e religião, céu e inferno, santos... e pecadores.
É daqui, aliás, que nasce o elemento de choque: é que este não é um livro recomendado a almas religiosamente sensíveis. O Deus de Jesse pode ter deixado o mundo por sua conta, mas continua a haver toda uma abundância de anjos e santos... pouco convencionais. Além disso, não importa que Jesse seja um pregador e o Santo dos Assassinos... bem, um santo. Se há coisa que não há neste livro é paz e inocência. E mais: de toda a violência e morte que, ao longo do caminho, se manifesta, surge ainda a sensação de que tudo isto é apenas o início. E que muito mais virá certamente.
Ora, tendo tudo isto em vista, escusado será dizer que a moralidade das personagens é, na melhor das hipóteses, ambígua. Mas é também daqui que acaba por surgir um dos grandes pontos fortes da história: é que, sendo certo que ninguém é santo neste livro, também o é que há momentos - e dos bons - em que a melhor faceta das personagens vem à tona. Jesse, em particular, é a imagem perfeita de uma personagem completa, capaz de fazer o que tem de ser feito, mas com poderosos laivos de consciência e responsabilidade.
Intenso, viciante e inesperadamente complexo, trata-se, pois, do mais promissor dos inícios. Com as suas personagens fascinantes e a sua fusão de blasfémia e religião, prende desde o primeiro contacto e é impossível largá-lo antes do fim. Que mais se pode pedir, então? Só mesmo o próximo volume - o mais rapidamente possível.
Título: Preacher - A Caminho do Texas
Autores: Garth Ennis e Steve Dillon
Origem: Recebido para crítica
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