Kyle Barnes precisa de respostas. Só assim poderá recuperar um pouco da vida que perdeu. Mas está rodeado de sombras por toda a parte e até o seu único aliado, o reverendo, começa a ter dúvidas sobre a eficácia do que fez no passado. Parece haver demónios - ou seja lá o que eles são - em todo o lado e Kyle só sabe que, mesmo que sinta que está a enlouquecer (ele ou o mundo inteiro) precisa de fazer alguma coisa. Mas o que se passa é tudo menos loucura, e embora Kyle pouco saiba além de que os demónios o chamam de proscrito e anseiam pelo seu poder, há coisas que começam a ganhar forma. E, com as respostas, vêm também novas ameaças... mais uma vez, àqueles que lhe são mais próximos.
Talvez um bom ponto de partida para começar a falar sobre este livro seja o título. Chama-se Uma Ruína Sem Fim e dificilmente poderia ser mais adequado. Pois se já antes a vida de Kyle era feita de sombras, há agora todo um manto de desolação a cobrir tudo o que rodeia. Além do passado que o assombra, assombram-no também agora os actos do presente, e isto deixando de fora a (também muito capaz de assombrar) parte sobrenatural. Há, pois, um manto de profunda tristeza subjacente ao mistério e ao horror e também seja isso o que mais marca neste segundo volume: a sensação de mergulhar nas trevas com Kyle, sabendo que é bem possível que não haja retorno.
É uma história sombria, não só ao nível dos demónios... bem, literais... como também dos demónios interiores das personagens. Estes assumem, aliás, um papel bastante preponderante neste segundo volume. O resultado é um equilíbrio delicado, mas muito eficaz, entre o que parecem ser duas facetas distintas, mas profundamente entrelaçadas, da mesma história: por um lado, o obscuro e fascinante mundo dos demónios, cujas acções e intenções começam apenas a assumir um pouco de sentido; por outro, a história pessoal de Kyle, cujas angústias compreendemos cada vez melhor.
E neste delicado equilíbrio entre o horror e a tristeza também o elemento visual desempenha um papel crucial. É tão fácil sentir o que atormenta as personagens numa frase notável como na expressão devastada que, muitas vezes, lhes atravessa as feições. É tão fácil sentir as sombras nos diálogos do misterioso Sidney como na aura de escuridão que parece envolver todos os locais. E, no fim, não há nada que não faça falta e as personagens entranharam-se de tal forma que é impossível resistir à vontade de descobrir, o mais rapidamente possível, o que reserva o futuro para o atormentado Kyle Barnes.
Inteiramente à altura das expectativas e com um equilíbrio ainda mais intenso que o do primeiro volume entre os elementos de horror e as sombras internas que povoam a alma das personagens, trata-se, pois, de mais um livro viciante, surpreendente e marcante em todos os momentos certos. Altamente recomendado, em suma.
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Origem: Recebido para crítica
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