A história devia ter acabado quando Aula e Joomia se uniram, unindo também assim os seus povos. Mas não foi isso que aconteceu. Embora juntos à força, os dois povos continuam centrados nas suas divergências e Etain, a líder profetizada, está muito longe de conseguir levá-los a superar as diferenças. E eis que tudo se agrava. Primeiro, um dos sues elementos adquire um estranho poder e começa a espalhar o caos na ilha. Depois, um grupo de guerreiros hostis chega a Chloris, inegavelmente mais fortes e decididos a colher os recursos de que precisam, seja qual for o custo para os habitantes da ilha. Agrava-se ainda mais o caos. Etain estava destinada a ser líder - mas, para o ser, tem um longo caminho pela frente. E, com os amigos de sempre e alguns novos e improváveis aliados, terá de arriscar tudo para salvar o seu povo.
Sendo uma continuidade de Ariadnis e, tal como este, narrado de múltiplos pontos de vista, uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro é a evidente sensação de que o que se deveria atingir com a forma como tudo terminou... não correu bem como o esperado. Ora, isto tem um efeito interessante: por um lado, ressuscita a mesma confusão sentida do início do primeiro livro, pois tudo o que pensávamos saber sobre este mundo é afinal um pouco diferente; por outro, transmite toda a frustração, confusão e medo das personagens, o que acaba por as tornar mais próximas, mesmo quando as suas escolhas não são as mais fáceis de entender.
Outro aspecto especialmente intrigante é esta expansão do mundo, permitindo a entrada de um novo povo com novos comportamentos. Chloris foi alegadamente criada para dar uma nova oportunidade aos humanos, mas, ao que parece, Govinda mantém os mesmos problemas do passado. Escusado será dizer que este é um excelente ponto de partida para a reflexão sobre questões de raça, igualdade e género que, embora surgindo de forma gradual, estão bem presentes ao longo desta história. Além disso, há ambiguidade suficiente para realçar algo de positivo: os defeitos individuais não são os defeitos de todo um povo. E isso é particularmente evidente nas diferenças que separam Vulcan e Sol.
Embora haja muita matéria para reflexão, o ritmo da história nunca se torna pausado. Muito pelo contrário. Há sempre alguma coisa a acontecer, seja uma invasão, uma batalha no mar, uma discussão feroz entre amigos, uma traição ou uma espécie de redenção. Há muitos momentos intensos ao longo da história e também um percurso de crescimento e de aceitação nas personagens. Além, claro, de uns quantos momentos de humor que acrescentam um agradável laivo de descontracção a uma história repleta de tensões.
E quanto ao fim... bem, ficam novamente perguntas sem resposta, nomeadamente acerca de Sol e Domaga (ainda que, em menor grau, também sobre Aula e Taurus). Mas é, ainda assim, o final mais adequado: deixando resolvido o enredo central e, para o resto, todas as esperanças e possibilidades do início de um novo ciclo.
Intenso, cativante e cheio de surpresas, trata-se, pois, de um livro em que todos os elementos parecem contribuir com algo de positivo para criar uma história com uma mensagem forte, personagens tão falíveis quanto complexas e um enredo totalmente imprevisível. O resultado é, claro, uma boa história. E uma boa leitura.
Título: Anassa
Autor: Josh Martin
Origem: Recebido para crítica
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