quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Deuses Americanos - Sombras (Neil Gaiman, P. Craig Russell e Scott Hampton)

Shadow sai da prisão para descobrir que a mulher e o melhor amigo morreram no mesmo acidente e que a vida que julgava pode reconstruir está irremediavelmente perdida. Mas eis que uma nova estranha oportunidade surge no seu caminho, na forma do misterioso Sr. Wednesday, que parece saber tudo sobre ele e estar absolutamente empenhado em oferecer-lhe emprego. Só que não é um emprego vulgar e, ao serviço de Wednesday, Shadow terá de aprender a acreditar em tudo, desde a simples estranheza da vida à realidade de uma guerra entre deuses antigos e modernos.
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que não importa ter lido ou não o romance original para desfrutar de toda a estranheza e fascínio desta intrigante história. É fácil entrar no mundo de Deuses Americanos, mesmo que, como eu, não tenham dele qualquer conhecimento prévio. E, para quem está a entrar neste mundo pela primeira vez, é, aliás, particularmente fascinante a forma como partilhamos da estranheza do protagonista. Tudo é estranho e tudo é novo. E é isso mesmo que torna tudo tão genial.
É, naturalmente, Shadow a personagem que se destaca, até porque as suas circunstâncias - e o facto de dar por si perdido num mundo completamente novo - despertam uma empatia imediata. Mas há muito mais para descobrir e em comum têm apenas este aspecto: é tudo fascinante. Desde Wednesday e os outros que partilham a sua natureza aos seus maiores inimigos, passando, é claro, pelas figuras aparentemente secundárias que vão deixando a sua marca ao longo do caminho. Além disso, há vários episódios que, apresentando personagens aparentemente isoladas do enredo central, permitem uma visão bastante mais vasta do que seria a presença dos deuses no mundo moderno.
E, claro importa ainda falar do elemento visual. Não conhecendo (ainda) o romance original, é difícil julgar da fidelidade em termos de caracterização. Mas é fácil ouvir a voz de Gaiman no texto e imaginar que essa linha se manterá também nas imagens. Além disso, a fidelidade à história é apenas uma faceta a ter em conta, porque há outras qualidades: a cor, a expressividade, a construção de um mundo onde o sonho, a imaginação e o divino têm um papel tão importante. Os diálogos podem ser a alma do enredo, mas é a arte que dá às personagens a imensa vida que têm. 
O resultado é ma leitura intensa, viciante e tão cheia de surpresas como de emoção. E um mundo diferente a explorar e desvendar, em que deuses antigos e deuses modernos convergem rumo a um conflito em que quase tudo será permitido. Genial, em suma.

Autores: Neil Gaiman, P. Craig Russell e Scott Hampton
Origem: Recebido para crítica

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