Desde o desaparecimento de Lúcifer que Laura alimenta a pequena esperança de pertencer também ao panteão - o grupo de deuses que reencarna a cada noventa anos para inspirar amores e ódios e, passados dois anos, morrer. Mas o seu sonho é tudo menos cor-de-rosa. O que aconteceu realmente a Lúcifer continua a ser um mistério e os outros deuses... bem, digamos que não são propriamente divinamente bons. Laura quer respostas e isso implica manter a proximidade. Só que há um desígnio insondável em acção e nem todos os deuses parecem ter os mesmos planos para o seu limitado futuro.
Se bastava o primeiro volume para reconhecer o vastíssimo potencial da premissa desta série - deuses enquanto estrelas e tão efémeros como a fama - esse potencial é aqui imensamente expandido. Para lá da fama, do brilho e dos estranhos poderes, surgem as outras facetas de se ser divino: as invejas, a soberba, a irresistível aspiração a mais. E é assim que começam a formar-se os contornos de um plano sombrio, em que cada deus parece ter um papel diferente - e mais ou menos voluntário - a desempenhar.
Um dos aspectos mais poderosos deste livro é que, embora desenvolvendo as relações de adoração entre homens e deuses (ainda que numa faceta... pouco convencional), se há coisa que não existe é uma barreira clara entre o bem e o mal. Cada deus tem as suas características e, principalmente, a sua personalidade própria. E nenhum deles é simplesmente bom ou mau. No seu caminho, deixam fãs extasiados, ressentimentos profundos e atritos mais longos e complexos - principalmente uns com os outros. E as motivações para cada comportamento nunca são fáceis e muito menos claras. Não fica, aliás, muito em aberto para o volume seguinte: fica tudo em aberto. E é isso principalmente (além, é claro, das muitas qualidades do livro) que deixa uma vontade irresistível de ler o próximo volume o mais rapidamente possível.
Mas voltando às qualidades. Falei já da ambiguidade das personagens - que as torna mais complexas e fascinantes. Falta-me falar, naturalmente, da arte, tão cheia de cor e de expressão que é impossível não se ficar com vontade de entrar naquele estranho mundo. E que impressiona principalmente por se ajustar tão perfeitamente ao mundo que este livro apresenta: um mundo de celebridades, logo, de brilho, festas e excessos, mas também um mundo de deuses, e portanto de sacrifício e adoração - com um inevitável lado sombrio.
Corresponde às expectativas? Oh, sim, e supera-as plenamente. Pois, com a sua expansão em termos de diversidade e complexidade, acrescenta novas camadas de emoção e dramatismo, sem perder nenhuma da intensidade e do fascínio do volume anterior. Intenso, belíssimo, cheio de surpresas... mal posso esperar para ver o que vem a seguir. Maravilhoso.
Autores: Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matt Wilson e Clayton Cowles
Origem: Recebido para crítica
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