Um atendado falhado ao presidente francês, impedido apenas por um novo tipo de vidro à prova de bala, lança o caos entre as agências governamentais de diferentes países. O tiro foi disparado a mais de mil e quinhentos metros e há poucos atiradores capazes de algo assim. Mas um dos principais suspeitos é norte-americano e, caso seja ele o responsável, pode estar aí o início de um grave incidente. Ora, esse suspeito é também uma figura conhecida do passado de Jack Reacher. E é por isso que, de forma algo invulgar, o antigo polícia militar é chamado de volta a acção. Na companhia de uma analista novata, cabe a Reacher seguir a pista do seu suspeito e apanhá-lo, mais uma vez. Mas as coisas não são assim tão simples. E há várias pistas que não batem certo...
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar de fazer parte de uma longa série de livros com o mesmo protagonista, não fica, em momento algum, a sensação de haver alguma informação em falta. Todo os factos pertinentes do passado de Reacher são referidos ao longo do enredo e, quanto ao caso propriamente dito, tudo o que aqui tem início encontra também o seu fim. Assim sendo, este é um livro que se lê perfeitamente sem qualquer conhecimento anterior da série e do protagonista.
Pode também funcionar como um bom ponto de partida, já que a missão implica que o protagonista conheça umas quantas personagens novas. E, ao dar-se a conhecer a essas personagens, Jack Reacher mostra-se também ao leitor em todas as suas peculiaridades. O que me leva, aliás, ao ponto mais interessante de todo o livro. É que, ao narrar a história pela voz do protagonista, o autor apresenta, nesse registo, alguns dos traços mais vincados da personalidade de Reacher, bem evidentes nas frases que repete e no muito cativante sentido de ironia que, em muitas das vezes, lhe está subjacente.
Quanto ao caso propriamente dito, há dois aspectos que se destacam e que, de alguma forma, se complementam. Por um lado, muitos dos avanços decorrem de alguma capacidade dedutiva do protagonista, o que cria um enredo bastante racional e em que a emoção surge muito espaçadamente. Ora, isto cria uma sensação de distância para com as personagens, retirando-lhes parte da possível empatia. Mas, se é verdade que os momentos mais emotivos são poucos, também o é que, quando acontecem, surgem com surpreendente intensidade. Intensidade essa que não implica dramatismo. Muito pelo contrário. Mas que, no seu registo discreto, mas eficaz, acaba por proporcionar, ainda assim, vários momentos memoráveis.
Da soma de tudo isto, fica a impressão de uma aventura que é feita em igual medida de acção e de dedução. E que, no seu registo invulgar, permite uma visão diferente das personagens, ao mesmo tempo que as conduz por uma sucessão de descobertas inesperadas. Intrigante e surpreendente, uma boa leitura.
Título: Uma Questão Pessoal
Autor: Lee Child
Origem: Recebido para crítica
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