sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

As Grandes Cartas de Amor (Elizabete Agostinho)

Amor. O que redime e o que destrói, o que fundamenta as bases de uma relação duradoura e o que nunca alcança o coração de quem é objecto desse amor. O que não chega, o que não é possível, o que extasia e o que nunca morre. Amor, pela voz de vários grandes nomes da história que, mesmo não o reflectindo no legado que deixaram, puseram em cartas à pessoa amada a verdadeira dimensão do seu sentimento. 
Organizado - tanto quanto é possível fazer uma tal divisão - pelo que se poderiam considerar os diferentes tipos de amor, este é um livro que reúne um conjunto de cartas das mais diversas figuras históricas, tendo, em certos casos, como único ponto comum o tema dessas mesmas cartas. É de amor que é feito este livro e, portanto, há, inevitavelmente, essa presença recorrente. E é tendo em conta esse tema comum que o mais interessante neste livro acaba por ser a diferença. A diferença entre a forma como cada uma dessas figuras expressou o seu amor, como, nas cartas, se reflecte uma história e uma vivência diferentes para um mesmo sentimento.Tão diferentes que, em alguns dos casos, o amor é óbvio, arrebatado, sendo impossível deixá-lo por declarar, enquanto que, noutras, é discreto, quase questionável, ténue, mas, apesar de tudo, presente. 
Destas diferenças surgem claros contrastes para o que é, no fundo, um sentimento comum. E é, na verdade, isso o que mais contribui para tornar interessante esta leitura. É que, mesmo que, depois de ler umas quantas declarações mais ou menos claras de amor mais ou menos eterno, a leitura nunca se torna demasiado repetitiva, porque a forma como o autor de cada carta exprimiu os seus sentimentos é diferente da de todos os outros. E assim, seja uma faceta sobejamente conhecida do seu autor, seja algo de completamente inesperado, há sempre algo de novo a descobrir em cada carta.
Ainda um outro ponto que importa realçar neste livro é o aspecto visual. Se é certo que a organização das cartas, e as cartas em si, bastam para que a leitura valha a pena, a beleza da edição acrescenta-lhe algo mais, evocando, em certa medida, com os fragmentos das diferentes caligrafias e a forma como o texto é enquadrado, um pouco da sensação de ler uma carta. Também isto torna a leitura mais apelativa.
E eis, pois, uma viagem pelo amor através dos tempos - ou das mentes de vários grandes nomes. Uma viagem cativante - e, por vezes, surpreendente - em que do universal surge a diferença, num sentimento que, vivido de mil maneiras diferentes, continua, ainda e sempre, a ser apenas um. Muito interessante e muito bonito, um livro que vale a pena ler.

Título: As Grandes Cartas de Amor
Autora: Elizabete Agostinho (selecção e coordenação)
Origem: Recebido para crítica

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