De amor e de melancolia. De imagens traçadas no mais profundo da estranheza e da crueza das coisas tal como elas são. Da complexidade de um sentimento que se quer infinito e que talvez exista - ou talvez não. De tudo isto e de outros labirintos da alma são feitos os poemas que constituem este livro. E um pouco mais.
Quase todos bastante extensos e com uma estrutura que parece moldar-se ao ritmo do pensamento, estes são poemas que cativam, em primeiro lugar, pela peculiaridade do tom que lhes dá voz. É como se não houvesse uma linha clara de pensamento, mas antes uma sequências de imagens a afluir à mente do sujeito poético. E, contudo, dessa sequência de imagens, às vezes contraditórias, mas que acabam por fazer sentido no seu encadeamento, surge uma impressão global - uma ideia, um sentimento, um alguém que existe do outro lado das palavras. É fácil, por isso, passar da estranheza inicial para a assimilação de algo que nunca fica completamente definido, mas que, no contorno dos sentimentos que evoca, desperta uma certa familiaridade.
Também a própria estranheza faz parte do que torna esta leitura interessante. É certo que, nalguns poemas, o estranho fluxo das ideias pode, por vezes, tornar-se demasiado confuso. Ainda assim, resulta desta estranheza um interessante contraste: ora a construção de um cenário quase que de fantasia, ora a realidade pura e dura. Ora amor, ora nada. E é esta dualidade que sobressai do conjunto dos poemas e que faz com que mesmo aqueles em que parece que fica alguma coisa por esclarecer consigam, à sua maneira, cativar.
E há ainda um último aspecto a destacar. É que, apesar de todos os poemas terem uma estrutura bastante livre, há ainda assim um ritmo nas palavras, uma certa fluidez que torna mais fácil assimilar as imagens evocadas. Além disso, a liberdade na forma acaba por transpor para a estrutura o tal ritmo do pensamento, fazendo com que a expressão das ideias pareça mais natural.
Feito de sentimentos e, por isso, pessoal quanto baste, mas evocando emoções e imagens com que é fácil criar uma certa empatia, este é, pois, um livro que cativa pela sua invulgar fusão de estranho e de familiar. E que, precisamente por isso, acaba por ficar na memória. Gostei.
Título: Poemas Perdidos
Autor: Francisco Luís Fontinha
Origem: Recebido para crítica
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