Viver uma vida consciente significa viver com o conhecimento de que, um dia, tudo termina. E se é verdade que há muitas formas de lidar com o medo da morte, também é certo que, para muitas pessoas, esse medo pode assumir a forma de um terror paralisante. Enquanto psicoterapeuta, Irvin D. Yalom dedicou muito tempo - e experiência - a este assunto. E, fruto dessa experiência e do seu próprio percurso pessoal, este é um livro que, sem respostas fáceis ou absolutas, mas de forma muitíssimo esclarecedora, nos encaminha para a necessidade de enfrentar esse medo olhos nos olhos.
Uma das primeiras coisas a cativar para este livro, e principalmente tendo em conta o tema que lhe serve de base, é o registo que o autor usa para expor as suas ideias. Assente na sua própria experiência e no vasto conhecimento que aqui revela, bem como no percurso dos seus pacientes e na sua própria vida pessoal, a percepção que o autor tem sobre a morte é algo de fascinante e a forma como a expõe aos olhos do leitor, tão clara nas ideias, mas, acima de tudo, reforçada por percepções e emoções vividas na primeira pessoa, é, em si mesma, um apelo à reflexão.
Também um aspecto interessante é o facto de, apesar de grande parte do livro assentar em exemplos vindos da terapia, havendo inclusive um capítulo orientado para terapeutas e futuros terapeutas, o tom do livro nunca deixa de ser acessível e envolvente, referindo as teorias e ideias que servem de base à perspectiva do autor, mas sem se perder em divagações e tecnicismos necessários. O autor tem uma mensagem a transmitir e fá-lo com a máxima clareza possível. E dessa mensagem - das ideias que transmite, das perguntas que evoca, até mesmo das emoções que consegue despertar - emerge um vasto conjunto de matéria para reflexão. E, quando falamos de um tema tão importante e inevitável, reflectir é preciso.
Ainda uma última particularidade surpreendente diz respeito à forma como, através das histórias que conta, quase parece ser possível ficar com uma ideia de como será o autor enquanto terapeuta, já que, ao mostrar alguns diálogos com pacientes, mostra também um pouco de si. E isto torna-se particularmente interessante quando se fala de convicções pessoais, sendo aqui especialmente relevante a questão da crença. Nas conversas com os seus pacientes, e também quando se dirige ao leitor, o autor assume com toda a clareza as suas posições sobre a fé, mas também a forma como lida com as crenças dos pacientes. E isto é interessante porque, assente na crença de uma vida finita ou numa possível existência após a morte, é a forma como se lida com o medo o que realmente importa. E esta é apenas uma ideia a destacar-se entre o muito de interessante que este livro tem.
Trata-se, portanto, de um livro para pensar, de uma viagem a um medo incontornável e sobre o qual, através do exemplo, das ideias e das emoções, o autor lança uma nova luz. Muitíssimo interessante no conteúdo, e muitíssimo cativante na escrita, eis, pois, um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: De Olhos Fixos no Sol
Autor: Irvin D. Yalom
Origem: Recebido para crítica
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