terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A Avó e a Neve Russa (João Reis)

Vivem no Canadá e foi lá que ele nasceu, mas a história da sua vida vem da Rússia. Foi em Chernobyl que a Babushka respirou os ventos atómicos que agora lhe estão a destruir os pulmões. E ele tem de fazer alguma coisa, ou vão separá-lo do irmão e levá-lo para longe e a Babushka vai morrer longe da neve russa da sua infância. É novo, mas já se sente um homenzinho, e ouviu falar de um cato que, ao que tudo indica, pode ajudar. Por isso, com a mais improvável das ajudas, lança-se numa longa viagem através do continente - na esperança de encontrar a salvação para a sua Babushka. E talvez um futuro...
Narrado na primeira pessoa pela voz de uma criança, este é um livro em que, desde muito cedo, se afirma um contraste brutal: o da ingenuidade do protagonista, que acredita no que vê nos filmes, no que lê em livros que não entende e no que vai captando das suas impressões, ante a crueldade da vida tal como ela é. E o máximo exemplo disso é a forma como vê a situação da avó, procurando nos locais mais improváveis uma solução mais impossível. Mas há mais: a forma como interpreta as circunstâncias do que o rodeiam, em particular de Matt, mas não só, realça esse duro contraste, reforçando, mais uma vez, a inocência e a percepção do seu lugar no mundo.
Ora, esta inocência desperta impressões curiosas. Por um lado, há momentos deliciosamente divertidos, como as análises tetralógicas (não, não me enganei) do protagonista. Por outro, fica um aperto no coração em situações como as conversas do narrador com os médicos da Babushka. E, destas duas facetas, emerge um estranho e delicado equilíbrio: este protagonista sem nome é todo um rosto para a humanidade, pondo em evidência, através da sua ingenuidade, todas as complexidades e agruras do mundo. E é isso, acima de tudo, que fica na memória ao terminar esta história: pode-se ver o mundo com olhos inocentes - mas toda a inocência chega ao fim. Nem tudo é possível.
Mas, apesar de todo o brilhantismo que há na história, (e há-o em abundância), há ainda um outro aspecto a elevar um pouco mais esta narrativa: a escrita em si, claro.Natural, envolvente, introspectiva, quando assim tem de ser, directa nos momentos em que a história o exige. Com um ritmo que se ajusta na perfeição a cada acontecimento e pensamento do protagonista. Belíssima, harmoniosa, sempre cativante - poética nos momentos mais belos, cruel nos de maior crueldade. E evocativa em momentos tão pertinentes como o da "cidade das partes suplentes", com os óbvios paralelismos que evoca. 
E tanto mais haveria a dizer sobre este livro - mas não sem estragar o prazer da descoberta. Por isso, fico-me por aqui: pela recomendação incondicional e sem reservas deste livro que projecta sobre as sombras da realidade a pureza do mais inocente dos olhares. Magnífico.

Título: A Avó e a Neve Russa
Autor: João Reis
Origem: Recebido para crítica

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Há Cabelos que Sorriem (Diogo Antunes)

Memórias, paixões infantis, grandes experiências dos antepassados que moldam a vida de uma mente jovem. Recordações de uma África longínqua, onde o avô conheceu uma mulher cujos cabelos sorriam, onde construiu as raízes do que viria a ser uma criança que, dividida no cerne de uma família em desagregação, pensa apenas na sua paixão da infância - e numa forma, talvez, de reconstituir o que se perdeu. Silêncios, afectos fugidios, o fim à espreita... E a vida a três dimensões - passado, presente e futuro - vista pelos olhos de uma criança. De tudo isto e de mais se faz esta história.
Menos de cem páginas e uma inesperada complexidade - são estes os traços que se destacam deste breve, mas surpreendentemente profundo livro. Breve no todo, como nos capítulos que o constituem. Complexo nas emoções, na teia de memórias e de possibilidades que, vista pelo olhar de uma criança, esbate as fronteiras entre o real e o imaginário. E profundo nas emoções que desperta, mesmo quando a abstracção do que é deixado por dizer parece deixar mais perguntas que respostas.
Na base de tudo isto, há dois aspectos fundamentais: o poder e vulnerabilidade da memória e a voz de uma escrita que parece fluir ao ritmo dos pensamentos. Escrita que, ao oscilar entre tempos e lugares, entre acontecimentos reais e fragmentos de imaginação, parece percorrer múltiplas mentes, sem nunca se afastar do pensamento do protagonista. E o que mais surpreende é que nem tudo se torna claro. Nalguns casos, o que está realmente a acontecer é apenas do conhecimento do narrador. E, ainda assim, tudo parece certo. As palavras fluem com naturalidade, mesmo quando as perguntas sem resposta e o entrelaçar de diferentes vivências parecem deixar sentimentos ambíguos e curiosidade insatisfeita. E, assim, aquilo que é dito acaba por pesar sempre mais do que o que fica por dizer.
Fica a sensação de que mais haveria a dizer sobre esta história - ou histórias entrelaçadas. Ainda assim, e inevitável a convicção de que o essencial está presente. E quanto ao resto... bem, numa história em que o imaginário parece ser tão importante como o real, não deixa de fazer sentido que parte das explicações sejam deixadas à imaginação. 
É esta, pois, a impressão que fica da soma das partes: a de uma história intrincada, mas natural, em que inocência e experiência se conjugam para formar uma teia mais vasta. E em que tudo é possível, ainda que nem tudo tenha explicação. Cativante, surpreendente e equilibrado, trata-se, pois, de um livro que pouco perde pela brevidade, pois deixa espaço para o que se pode imaginar. E também isso faz dele uma boa leitura.

Título: Há Cabelos que Sorriem
Autor: Diogo Antunes
Origem: Recebido para crítica

sábado, 25 de fevereiro de 2017

A Última Estrela (Rick Yancey)

Tudo o que julgavam saber sobre o inimigo estava errado - e foi assim que ele os levou ao caos. Confiança e colaboração transformaram-se em nada, pois ninguém sabe se o humano com que se deparam, encolhido de medo, num canto qualquer, não pode ser, na realidade, um deles. E faltam poucos dias para a Quinta Vaga - o início de uma guerra que nunca terá fim. Cassie, Zombie, Ringer, Sam... o próprio Evan... todos sabem que o fim está próximo, e que é preciso fazer alguma coisa. Que, mesmo que seja tarde demais para salvar o mundo, não podem deixar que os Outros ganhem. Mas, quando tudo é uma grande mentira, em quem podem confiar realmente? E que explicações há quando o impensável se torna normal?
Último volume de uma trilogia onde a acção foi quase sempre uma constante e as sombras de um fim inevitável a aura de tensão que a definiu, este é um livro que conjuga o melhor dos dois volumes anteriores: a intensidade de uma corrida pela sobrevivência e a tomada da consciência de um mundo que se tornou tão negro que nunca pode haver saídas fáceis. E é precisamente a conjugação destas duas facetas o que mais impressiona neste livro. A capacidade que as personagens têm de continuar a lutar - vincit qui patitur - mesmo quando tudo afirma que a vitória nunca poderá ser completa. 
Claro que, seguindo na senda dos volumes anteriores, não poderia deixar de haver, ao longo da história, todo um conjunto de novas revelações sobre o que realmente se está a passar. Mas o mais interessante nestas revelações é precisamente o efeito ambíguo que têm - podem mudar tudo para os protagonistas, mas, ainda que por vezes pareça, eles não estão sozinhos no mundo e há outros a acreditar em coisas diferentes. Ora, isto torna todo o enredo mais complexo, pois as situações em que as personagens se vêem levantam-lhes questões dolorosas. Inocência, esperança, coragem tornam-se relativas face ao que é preciso fazer. 
E tudo isto converge para um final duro, ainda que tão adequado quanto inesperado.Todas as escolhas das personagens as levaram até ali. E, sendo certo que, dadas as circunstâncias, dificilmente se conseguiria um final com todas as respostas, as que ficam por dar acabam por fazer sentido. Mas, mais do que isso, o impacto emocional desses momentos, tendo em conta tudo o que ficou para trás, ganha uma maior dimensão pelo facto de não se saber o que vem depois. 
Intenso, surpreendente, cheio de acção e com toda a emoção de que precisa, trata-se, pois, de um final à altura das expectativas geradas pelos volumes anteriores. Sombrio, doloroso, às vezes, mas complexo e fascinante, A Última Estrela encerra da melhor forma um enredo cheio de complexidades inesperadas. E tudo isto o torna memorável. E tudo isto o torna... muito bom. 

Autor: Rick Yancey
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro A Última Estrela, clique aqui.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Just Fourteen (Sherry Raby)

Bree tem apenas catorze anos e acaba de ter o seu primeiro encontro… com o melhor amigo. Mas, apesar de gostarem um do outro, Bree não tem a certeza de que Ty seja a pessoa certa para ela. E há outros que querem conhecê-la melhor. Talvez demais. Quando um rapaz que conheceu no autocarro é preso e afirma que ela é namorada dele, Bree dá por si metida em sarilhos. Mas talvez falar baste para resolver a situação. Afinal, ela só tem catorze anos… e a vida toda pela frente.
Um dos aspectos mais relevantes neste livro é a sua brevidade, que é em parte boa e em parte não tão boa. A parte boa vem do facto de, ao ir directa ao assunto, a autora construir uma leitura leve e envolvente. A parte menos boa vem da sensação de que tudo parece um pouco apressado. Bree é uma rapariga normal, sim, mas teria sido interessante saber um pouco mais sobre ela, principalmente uma vez que as suas indecisões fazem parte do que é ser-se adolescente. E, quanto ao rapaz do autocarro… havia uma história interessante sobre ele, à espera de ser contada.
Sendo principalmente sobre os dilemas de uma adolescente, grande parte do que acontece na história de Bree é… bem, a vida normal. Mas é bastante interessante conhecer essa normalidade – a relação com a família, as conversas com Ty, os pequenos vislumbres do amor que espera florescer… Sim, tudo isso pode ser contado de forma muito breve, mas é também bastante cativante. E é por isso que teria sido bom saber mais sobre tudo isto – porque tudo e todos parecem cheios de potencial.
A soma de tudo isto é simples: uma leitura leve e rápida, com personagens interessantes e uma história bonita e envolvente. Um pouco curto, é verdade. Mas, no essencial, uma boa leitura.

Título: Just Fourteen
Autora: Sherry Raby
Origem: Ganho num passatempo

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Rainha Perfeitíssima (Paula Veiga)

Esposa e irmã de reis, desde muito cedo destinada ao trono de Portugal, Leonor de Lencastre viria a deixar para a história um enorme legado na ajuda aos mais desfavorecidos. Mas nem só de sucessos e alegrias foi feita a sua história. Vivendo em tempos conturbados, viu familiares envolvidos em conspirações contra o rei, as pretensões do seu marido de legitimar um filho bastardo e o seu próprio filho morrer prematuramente em circunstâncias misteriosas. E, perante tudo isso, manteve a dignidade e o propósito. Tudo isto e mais nos conta este livro. 
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar de ter uma figura central bem evidente, não se cinge propriamente ao percurso e as vivências da sua protagonista. Muito pelo contrário. Mais que o percurso da rainha, é o meio em que se move, o contexto, os acontecimentos históricos - mortes, nascimentos, casamentos, guerras... - sucedidos durante a sua vida. E, assim sendo, fica desde logo uma impressão muito clara: a de que, apesar de narrada em grande parte na primeira pessoa, esta história se concentra mais nos acontecimentos que nas personagens, criando por isso uma certa impressão de distância.
Não deixa de ser uma leitura envolvente, para isso contribuindo os capítulos curtos e o óbvio interesse dos vários acontecimentos relatados. Fica, sim, a curiosidade em conhecer mais do lado humano das personagens, que, tendo em conta a forma breve como os acontecimentos são narrados e o vasto leque de situações e figuras que acompanha, acaba por ficar para segundo plano. Mas não deixa de ser uma história muito interessante, quer pela relevância histórica das várias personagens, quer pela forma como, de memória em memória, acaba por se traçar um retrato bastante amplo do contexto da época. 
E, quanto à escrita, se é certo que alguns dos diálogos parecem, talvez, um pouco forçados, a impressão que sobressai é, ainda assim, a do contraste entre as partes narradas na primeira pessoa, que atenuam um pouco a tal distância causada pelo domínio dos acontecimentos sobre a construção das personagens, e as narradas na terceira pessoa, que expandem a visão para lá do conhecimento (já de si vasto) da rainha sobre os acontecimentos descritos. 
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura que, em certos aspectos, deixa sentimentos ambíguos e perguntas sem resposta, mas que, apesar disso, consegue cativar e interessar desde as primeiras páginas e até ao fim. Uma boa história, em suma. 

Autora: Paula Veiga
Origem: Recebido para crítica

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Iluminações de uma Mulher Livre (Samuel F. Pimenta)

Isabel conhece o valor da liberdade, mas a verdade é que se deixou prender. Cresceu na capital, a avó ensinou-lhe tudo sobre as mulheres do passado que, tendo ousado lutar pela liberdade, sofreram as consequências dos seus ideais. E, porém, Isabel deixou-se levar para um casamento que começou por ser inebriante, mas não tardou a tornar-se opressivo. Tem sonhos, tem visões de liberdade. Mas, para os alcançar, precisa de se livrar do casamento a que se prendeu, seja de que maneira for. E sabe que também isso terá consequências. Mas procura nos ensinamentos da avó e  no exemplo dessas outras mulheres a força para decidir o que fazer. E o preço será o que tiver de ser.
Bastam umas poucas linhas lidas para descobrir a primeira das várias forças deste livro: a escrita. Não só pelo ritmo natural e envolvente que faz com que seja fácil entrar neste mundo tão místico e inesperado, mas o próprio registo, que parece adaptar-se na perfeição à mente da protagonista. Pela voz de Isabel, o autor faz-nos caminhar pela ténue linha entre a realidade e o mito, e a condução é feita com mestria. Pois, entrando na mente e nas memórias de Isabel, constrói um delicado equilíbrio entre passado, presente e futuro da protagonista e os mesmos múltiplos tempos de inúmeras outras mulheres.
Ora, este equilíbrio ganha uma outra dimensão se se tiver em conta que a mente da protagonista parece divagar entre diferentes tempos e diferentes histórias, num enredo em que, apesar dos grandes acontecimentos, parece ser a introspecção e a compreensão de si mesmo o essencial. Assim, Isabel perde-se em memórias, em pensamentos, em ensinamentos e descobertas - sem que o ritmo do enredo nunca se torne denso, nem distante, nem apagado. Há vida nos acontecimentos, como há vida no lado místico e filosófico que se afirma no modo de vida da protagonista. E isso é também parte do que torna esta leitura tão interessante. 
Mas nada neste tom místico e pessoal faz com que a narrativa se afaste da realidade. Muito pelo contrário. Há muitas questões pertinentes ao longo deste texto e, sendo certo que são vistas de um ponto de vista pessoal, não deixam por isso de ser universais: a igualdade enquanto direito, o julgamento dos alegados defensores da moral e dos bons costumes, o poder dos rumores, principalmente nos meios pequenos, a violência de género, as imposições sociais. Tudo isto está presente no percurso de Isabel, formando também parte da base do seu percurso de libertação. E, assim sendo, a sua jornada pessoal tem subjacente uma mensagem mais ampla: o direito à liberdade como algo de universal.
Profundo, místico, complexo, e porém de uma envolvência surpreendente. Cativante, pertinente, maravilhosamente escrito. Tudo isto faz parte do que define este livro. Mas a essência, essa, está num relato íntimo que se torna universal, dando voz e vida a aspirações que, vividas de uma forma muito única, são ainda assim um elo comum a toda a humanidade. É isso, acima de tudo, que torna esta leitura memorável. E é por isto, por tudo isto, que a recomendo. 

Título: Iluminações de uma Mulher Livre
Autor: Samuel F. Pimenta
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O Fim do Silêncio (Suzanne Redfearn)

Aos olhos do mundo, Jillian tem uma vida perfeita: uma carreira de sucesso, uma vida estável e um marido que, além de atencioso, é também um bom pai. Só ela sabe como a verdade é bem diferente. Há anos que as agressões se sucedem, mas houve sempre algum motivo - os filhos, o medo, a certeza de que as consequências seriam terríveis - que a levou a ficar. Agora, contudo, a situação parece ser irreversível. Quando diz ao marido que não consegue continuar, tudo acontece muito depressa. Em menos de nada, Jillian vê-se obrigada a fugir com os filhos para se manter viva. Mas, aos olhos do mundo, Gordon é o marido perfeito. Poderá a verdade ser mais forte que as suas mentiras?
Bastam alguns capítulos para ficar com uma muito boa ideia do que vai ser esta leitura: angustiante. Intenso e perturbador desde os primeiros capítulos, retrata na perfeição a vida dupla de uma vítima de violência doméstica que conhece o inferno em casa e mostra a vida perfeita aos olhos do exterior. E, de revelação em revelação, retrata um mundo interior para a protagonista - e para aqueles que o rodeiam - que é tão aterrador como realista e que, por isso, facilmente abala quem o está a ler.
Parte deste impacto deve-se ao enredo em si, magnificamente construído tanto nas coisas que acontecem, como no desenvolvimento das várias personagens. As contradições que fazem duvidar, os extremos de agressividade e de ternura, a necessidade de lutar e o desespero de fugir, as certezas, os erros, as impressionantes manipulações... Há toda uma teia de intrigas no seio de uma única relação e a forma como a autora conjuga todas estas facetas é algo de muito impressionante.
Também particularmente marcante é a construção das personagens. Gordon, agressor, mas capaz de se mostrar ao mundo como estável, afectuoso e, no fundo, a escolha perfeita. E Jillian, por outro lado, vítima de Gordon, sem dúvida, mas também ela com os seus erros e imperfeições. Erros e imperfeições que se tornam particularmente relevantes numa história destas, porque, sendo eles que a tornam humana, também fazem parte das armas usadas por Gordon. E, afinal, quem nunca ouviu o argumento "ela também não era nenhuma santa" como desculpa numa discussão sobre o tema da violência doméstica? Também isto torna a história mais complexa e, acima de tudo, mais realista. E, claro, consequentemente, mais marcante. 
Mas, ainda que a história se centre essencialmente nas circunstâncias de Jill e na forma como luta para se proteger e aos filhos do marido, há, ainda assim, pequenos elementos secundários que tornam a história ainda mais interessantes. É que, num enredo tão intenso, tão sombrio, nos seus momentos mais perturbadores, há pequenos lampejos de luz que tornam tudo um pouco mais leve. As interacções de Jill com o pai, Connor, certos momentos das crianças... são pequenos laivos de ternura e de humor que, numa história de contornos tão negros, funcionam como verdadeiros raios de luz por entre as trevas. Refrescantes, surpreendentes... e como que a insinuar uma certa esperança. 
Intenso, angustiante, surpreendente, trata-se, portanto, de um relato perturbador do pesadelo da violência doméstica. Sem fugas fáceis, sem julgamentos precipitados e com toda a complexidade e compaixão que um tema destes exige, absorve desde as primeiras linhas e entranha-se na memória a cada nova revelação. E, sempre realista, é um livro que não se esquece facilmente. Que mais dizer, então, sobre este O Fim do Silêncio? Só isto: que recomendo. Sem reservas. 

Título: O Fim do Silêncio
Autora: Suzanne Redfearn
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Spindle Cove é uma pacata vila onde jovens senhoras convivem e procuram manter a sua reputação intacta.
Após anos a levar uma vida solitária, a órfã Kate Taylor encontrou acolhimento e amizade em Spindle Cove, onde dá lições de música e frequenta a classe mais privilegiada da vila. Mas Kate anseia por algo mais, por conhecer o verdadeiro amor.
Até que revelações inesperadas ameaçam mudar o destino de uma donzela muito querida por todos.
Frio como o gelo, porém incrivelmente bonito, o cabo Thorne é o exemplo perfeito do tipo de homem que Kate deveria evitar. Mas o destino parece não concordar com ela. Entretanto, um grupo de misteriosos desconhecidos chega a Spindle Cove para revelar a Kate as suas verdadeiras origens. É então que, para surpresa geral, Thorne se apresenta como seu noivo.
A não ser que o anoitecer se encarregue de alterar o rumo dos seus passos.
Ele afirma que nada sente, além do dever de a proteger. Mas Kate está longe de acreditar nisso… E para Thorne conseguir convencê-la terá que manter as mãos longe do seu corpo tentador e escudar o coração daquele sorriso deslumbrante. Conseguirá este guerreiro vencer a sua derradeira batalha? Ou render-se-á ao desafio de amar pela primeira vez?

E se a pessoa de que mais precisas for alguém que não conheces?
Passaram apenas dois anos desde a morte da sua mãe e o seu pai volta a casar-se com uma mulher que conheceu online. Jessie é então forçada a mudar-se para a outra ponta do país, para morar com a madrasta e o seu pretensioso filho adolescente, aparentemente passado da cabeça.
Para Jessie tudo parece errado: sente-se uma estranha naquela casa enorme e fria, tem saudades da sua melhor (e única) amiga. A escola é uma selva autêntica, onde é vítima de bullying. Mas é então que recebe um e-mail de alguém que não conhece, nem se quer deixar conhecer, disponibilizando-lhe apenas a sua «amizade virtual». O que Jessie não espera é que será este e-mail a mudar a sua vida para sempre.
Esta é uma história memorável, que não deixa ninguém indiferente. Um misto de comédia e tragédia, amor e perda, dor e alegria.

Quando a memória já não consegue guardar o amor… o que nos resta?
Um marido encantador, duas filhas lindas, um trabalho de que gosta — Claire Armstrong parece ter tudo, até que lhe é diagnosticada a doença de Alzheimer. Todos os que a rodeiam têm de aprender a lidar com uma nova Claire, enquanto tentam habituar-se ao desaparecimento da mulher que amam.
Através de um livro de memórias, que vão construindo em família, recolhem as peças de uma vida que não estão preparados para deixar desaparecer. Até que a relação que surge de um encontro casual com um homem misterioso leva Claire a interrogar-se sobre o futuro do seu casamento e da sua família.
Com Claire incapaz de fazer o seu casamento resultar, de tomar conta das filhas, ou sequer de garantir a sua própria segurança, os desafios são imensos. Será que a família vai resistir às notícias que a filha mais velha tem para contar e à intromissão do misterioso homem na vida familiar?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Divulgação: Novidade Quetzal

Esta é a história de Eugénia, de quem se recorda o destino inverosímil, os desaires e os momentos de felicidade, a infinita capacidade de ser reerguer e de continuar a viver – em Portugal e em França, na adolescência e na idade adulta, na desilusão e na alegria (e na sua relação com os livros e com o sexo). É também a história de Artur, uma espécie de funâmbulo que atravessa (quase) todos os abismos. E a de todas as personagens que vivem em trânsito do passado para o presente, ao longo de uma história de amor invulgar e de desenlace inesperado.

«Um diamante natural é concebido no magma do centro da terra, e depois expelido para a superfície, por vezes abrindo à força um enorme buraco, outras vezes encontrado na cratera de um vulcão extinto. Aqui é diferente. O corpo humano tem dezoito por cento de carbono e dois desse carbono resta nas cinzas, depois da cremação. Permita-me dizer que fez bem em cremar o corpo do seu marido. É uma solução mais limpa.»

Sérgio Godinho nasceu no Porto e aí viveu até aos vinte anos, altura em que saiu de Portugal. Estudou Psicologia em Genève durante dois anos, antes de tomar a decisão «para a vida» de se dedicar às artes. Foi actor de teatro e começou a exercitar a escrita de canções nos finais dos anos 60. É de 1971 o seu primeiro álbum, Os Sobreviventes, seguido de mais vinte e sete até aos dias de hoje.
Sérgio Godinho é um dos músicos portugueses mais influentes dos últimos quarenta anos. O seu percurso espelha, precisamente, essa poderosa interacção entre a vida e a arte. Voz polifónica, Sérgio Godinho levou frequentemente a sua escrita a outras paragens. Guiões de cinema (Kilas, o Mau da Fita), peças de teatro (Eu Tu Ele Nós Vós Eles), séries de televisão, histórias infanto-juvenis (O Pequeno Livro dos Medos), poesia (O Sangue por um Fio), crónicas (Caríssimas Quarenta Canções), entre outros exemplos. Vidadupla, o seu primeiro livro de contos, é o capítulo anterior desse estimulante itinerário pessoal.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O Kaputo Camionista e Eusébio (Manuel Rui)

Tó-Tó gastou o dinheiro que o pai lhe mandou para o bilhete, por isso agora tem de fazer a viagem para casa à boleia de um camionista. O ano é 1966 e o dia o do mítico Portugal - Coreia do Norte. Quanto à viagem, o plano é fazê-la entre boa conversa e uma paragem para ouvir um pouco do relato. Pelo caminho, fala-se de tudo: da vida, do futebol, da raça e de como o governo de então pretende mudar as coisas. Da guerra, também. E do Eusébio, claro, esperança maior do Botijas para uma vitória devastadora. Até à tal paragem... e ao desânimo que se lhe segue. Mas nada é certo antes do fim do jogo. E, se o desânimo pode despertar revoltas, o que dizer quando tudo se inverte?
Pouco mais de cem páginas, incluindo, para além do conto que dá título ao livro, um conjunto de textos sobre o mesmo e sobre o tempo a que se refere. E, contudo, tanto haveria a dizer sobre esta história se grande parte não estivesse já lá. É que as reflexões que o conto desperta - sobre a paixão futebolística, sobre a forma como as diferentes personagens vivem a questão da raça, sobre a importância de Eusébio para a sua geração e para as futuras - surgem também nos tais textos que acompanham o conto. E, assim, não vale a pena alongar-me quanto a isso. Tudo o que importa está no livro.
Mas, claro, além dos temas, há a escrita e essa é também ela uma grande surpresa. É cativante, sim, mas isso já era expectável. A surpresa vem da forma como, aos poucos, numa voz aparentemente tão simples, os tais temas complexos emergem de forma natural. Como se fôssemos também à boleia, a ouvir a conversa entre o Tó-Tó e o Botijas e a ponderar no tanto que eles têm para dizer. É fascinante como em tão poucas páginas se consegue dizer tanto - sem floreados, sem elaborações desnecessárias, indo directamente ao essencial e sem que isso pareça tornar a história demasiado apressada. Simples, completo e muito bem construído: assim se faz a essência desse conto.
E depois há o aspecto visual, e o laranja vivo que parece ele próprio dar outra vida ao livro, destacando o conto, que é a alma essencial do todo, e rodeando-o dos tais textos que, falando de uma história que se basta a si mesma, acrescentam, ainda assim, novas perspectivas, o que torna a leitura mais completa.
Às vezes, um livro não precisa de ser grande para ser um grande livro. É o caso deste O Kaputo Camionista e Eusébio, que, em poucas, mas muito relevantes páginas, conjuga toda a matéria de que são feitas as boas histórias. Breve, simples, mas vastíssimo em conteúdo e muito belo na voz, um livro marcante e memorável. Que não posso deixar de recomendar. 

Título: O Kaputo Camionista e Eusébio
Autor: Manuel Rui
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Presença

A 5ª Vaga - Livro 3
Rick Yancey
Coleção: Via Láctea n.º 136
Título Original: The Last Star (book 3 of The Fifth wave trilogy)
Tradução: Miguel Romeira
PVP s/ IVA: 15,00 € PVP c/ IVA: 15,90 €
ISBN: 978-972-23-5963-4 
Páginas: 280

O inimigo já não é o mesmo. O inimigo somos nós.
Eles estão entre nós, eles estão sobre nós, eles não estão em lado nenhum. Querem a Terra, mas querem que seja nossa. Vieram para nos dizimar, mas querem salvar-nos.
Porém, sob estes enigmas esconde-se uma verdade: Cassie foi traída. E também o foram Ringer. Zombie. Nugget. E todos os sete mil milhões e meio de pessoas que viviam no nosso planeta. Primeiro traídos pelos Outros e depois por nós próprios.
Nestes últimos dias, os sobreviventes terão de decidir o que é mais importante: salvar-se... ou salvar o que nos torna humanos.

Rick Yancey nasceu em 1962, em Miami. Os seus livros foram já publicados em mais de vinte línguas e ganharam inúmeros prémios em todo o mundo, figurando na lista de bestsellers do New York Times. A 5.a Vaga, o primeiro volume e título desta trilogia, lançada em 2013, recebeu o Red House Children's Book Award, foi finalista dos Goodreads Choice Awards, na categoria de Fantasia e Ficção Científica, e também dos Children's Choice Book Awards, na mesma categoria. Foi igualmente adaptado ao cinema em 2016. A trilogia (cujos títulos anteriores, A 5.a Vaga e O Mar Infinito, foram já publicados pela Presença) encontra-se publicada em 25 países.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Estamos em pleno século XIV, um século marcado por várias crises decorrentes de sucessivos maus anos agrícolas, pestes endémicas e guerras contra Castela. No trono está D. Fernando, um rei inconstante e fraco. Eis o pano de fundo do romance histórico A Tentação de D. Fernando.
D. Fernando I nasceu a 31 de Outubro de 1345 e morreu a 22 de Outubro de 1383. Entre uma e outra data, Portugal viveu momentos conturbados, de grande tensão política, económica e social, que deram origem a guerras e alianças perigosas.
Mas foram sobretudo as intrigas políticas e os escândalos da Corte que inspiraram Jorge Sousa Correia a escrever este novo romance. A juntar ao talento narrativo que já conhecemos de livros anteriores – O Mistério do Infante Santo, As Sombras de D. João II e A Traição de D. Manuel I -, encontramos neste romance rigor documental, ficção e realidade em doses generosas.
O resultado é uma reconstrução feita com saber e mestria de um período histórico em permanente sobressalto, com guerras, tratados de paz, promessas de casamentos para ajudar a confirmar a paz, desrespeito pelos tratados assinados e... volta tudo ao início.
Sem grandeza e fulminado pela paixão, D. Fernando é um cavaleiro sem sorte que deixa o reino à beira do precipício. Porém, na iminência do domínio castelhano, o nobre povo português revolta-se e procura na figura do Mestre de Avis um “regedor e defensor do reino”.

Passatempo O Novo Livro do Pêndulo

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a O Castor de Papel, tem para oferecer um exemplar do livro O Novo Livro do Pêndulo, de José Medeiros. Para participar basta responder à seguinte questão:

1. Quantas tabelas auxiliares estão incluídas neste livro?

Convidamo-los também a visitar e seguir a página de Facebook bem como o blogue e o site da editora.

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 8 de Março. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por e-mail e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A Química (Stephenie Meyer)

Em tempos, trabalhou para uma agência ultra-secreta. Agora, os seus antigos superiores querem matá-la, mas, com anos de experiência a fugir e a esconder-se, ela está decidida a não lhes facilitar as coisas. Muda de nome de poucos em poucos dias. Não deixa rastos e não passa demasiado tempo no mesmo sítio. Mas, mesmo assim, o seu antigo patrão conseguiu encontrá-la. Parece que cometeram um erro e que o seu conhecimento inevitável é mais uma vez necessário - ou milhões morrerão. E, dividida entre a suspeita e o piso de milhões de vidas inocentes - a verdade é que ela acaba por não ter grande escolha. Aceita a missão, mas a pergunta persiste: será realmente para salvar vidas que precisam dela? Ou irá direita a uma nova armadilha?
Uma das primeiras características a destacar-se neste livro é que, para thriller, o ritmo do enredo é surpreendentemente pausado. A autora alonga-se em vastas descrições, expondo pormenores sobre as rotinas, raciocínios e planos detalhados da protagonista (e não só), o que faz com que, principalmente na fase inicial, a história evolua a um ritmo relativamente lento. Ora, isto faz com que, principalmente na primeira metade, a leitura não seja assim tão compulsiva. Mas depois, com o crescendo de intensidade que se lhe segue, as coisas mudam - e os pormenores anteriores... bem, começam a fazer sentido.
Sendo certo que, na fase inicial, a leitura não é assim tão viciante, não deixa, ainda assim, de se manter envolvente. Primeiro, porque as circunstâncias em que a protagonista é apresentada são mais do que suficientes para despertar curiosidade e a aura de mistério e de intriga que a rodeia bastam para se querer sempre saber mais. Depois, há medida que a história evolui, e a verdadeira complexidade da intriga começa a revelar-se, os muitos detalhes ganham sentido e as várias reviravoltas abrem caminho a vários momentos de grande intensidade. E, além disso, à medida que as personagens se tornam familiares, a empatia vai crescendo, o que contribui para aumentar em muito o impacto do tal crescendo de intensidade que começa a surgir com o desenrolar da trama.
O que me leva ao verdadeiro ponto forte desta história, o que a torna, apesar do ritmo lento, realmente memorável: as personagens. A protagonista, desde logo, com a sua posição de fuga constante, com o passado que carrega consigo e com a forma como os acontecimentos lhe mudam a vida e as perspectivas, desperta uma empatia inesperada tendo em conta a sua profissão. E quanto aos que a acompanham mais de perto... bem, não querendo revelar muito sobre a história.... basta dizer que são igualmente capazes de comover como de arrancar gargalhadas. E, tendo em conta o tipo de história de que se trata, isso não é algo de assim tão expectável à partida. 
E quanto à intriga? Surpreendente, cheia de inesperados, de revelações, de reviravoltas... e nem sempre nos grandes momentos. Com acção em abundância, sim, e com grandes situações de vida ou morte... mas também com pequenos laivos de afecto, de humor, de inesperada ternura que, por momentos, parecem mudar todo o tom do livro. Também isso surpreende e, tal como os grandes pontos de viragem, acaba por ficar na memória depois de terminada a leitura.
A impressão que fica é, portanto, a de uma aventura memorável, que, crescendo gradualmente em intensidade, começa por cativar pelas personagens, para depois surpreender pelo impacto das circunstâncias em que estas se revelam no seu melhor. Leva o seu tempo, sim, mas vale a pena. Vale muito a pena. 

Título: A Química
Autora: Stephenie Meyer
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro A Química, clique aqui.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

As Crónicas Tugas: Tem de Ser (Miguel Correia)

Lidar com pessoas não é fácil. Prova disso são os muitos episódios estranhos, caricatos e essencialmente verídicos que povoam este conjunto de crónicas. Crónicas que tanto se debruçam sobre verdadeiros casos de polícia como sobre simples diálogos invulgares. E que, num todo um tanto ou quanto bizarro, traçam um retrato nem sempre muito favorável, mas, no geral, bastante divertido, do que é a essência de se ser Tuga.
Bastante breves e, por isso mesmo, centradas no essencial, a primeira coisa a cativar nestas crónicas é, naturalmente, a peculiaridade. Peculiaridade de circunstâncias, mas também de tom, que, ora parece divagar entre pensamentos mais ou menos irónicos, ora surpreende com uma súbita revelação inesperada. Tudo em muito poucos parágrafos, escritos de forma bastante leve e, no geral, agradável - apesar de um ligeiro excesso de vírgulas.
Outro ponto forte - ainda que, nalguns casos, possa despertar sentimentos ambíguos - é a diversidade. Há um pouco de tudo neste conjunto de crónicas. O único ponto comum é precisamente a estranheza dos episódios. E, sendo certo que muitos deles são divertidos, há também algumas considerações capazes de despertar algum desconforto. Mas, claro, os gostos e pontos de vista variam de leitor para leitor e é precisamente por isso que a diversidade é uma força neste livro. É que as crónicas que mais dizem a um leitor podem ser precisamente as que um outro achará menos interessantes - e vice-versa, naturalmente. 
Ainda um outro aspecto a referir é a inesgotabilidade das fontes. Episódios bizarros, peculiares... inexplicáveis... existem sempre e em toda a parte. E é isso que faz com que a matéria-prima para histórias como estas nunca acabe. Nunca se fica com a impressão de que a leitura seja demasiado repetitiva, ainda que os erros e as bizarrias possam ter padrões comuns. E é por isso que, depois de dois livros de Crónicas Tugas, é inevitável a ideia de que há ainda material para mais. 
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura leve e divertida, mas bastante certeira na forma como retrata certas peculiaridades da sociedade actual. Simples, mas eficaz, um bom retrato das muitas estranhezas que por este país se vivem. Gostei. 

Título: As Crónicas Tugas: Tem de Ser
Autor: Miguel Correia
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Divulgação: Novidade Bertrand

Um rapaz com poderes extraordinários. Um exército de monstros assassinos. Uma batalha épica pelo futuro das crianças peculiares.
A aventura que começou em O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares e que continuou em Cidade sem Alma chega agora a uma emocionante conclusão em Biblioteca de Almas.
Jacob Portman, o herói que viajou no tempo para encontrar as crianças peculiares, explora a sua peculiaridade e descobre um poder até então desconhecido. Acompanhado de Emma Bloom, a rapariga que consegue produzir fogo com as mãos, e Addison MacHenry, um cão capaz de localizar qualquer peculiar, parte numa viagem ao passado para tentar salvar os seus amigos peculiares... e o futuro de todos eles.

Ransom Riggs cresceu na Florida, mas vive agora numa terra cheia de crianças peculiares: Los Angeles. Começou desde cedo a ler histórias de terror e a ver comédias britânicas na televisão, o que pode explicar o seu estilo também peculiar.
Além da escrita, as suas paixões são o cinema, a fotografia e viajar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Dinossauro Excelentíssimo (José Cardoso Pires)

Conta-se que existiu, em tempos, no Reino do Mexilhão, um imperador tão sábio e tão douto que tudo o que dizia era inquestionável. Há quem diga que não morreu, que por lá continua. O que se sabe é que o grande Mestre sempre teve como sua, mais até do que o sábio governo das gentes, a missão de dominar a palavra, moldando-a à imagem da antiga perfeição. E assim, vive-se no Reino do Mexilhão segundo regras muito claras, em que a hierarquia se controla com chaves e a palavra do imperador é lei. Mas, quando a linguagem se torna obsessão e o soberano se torna eremita, que será então de um reino que já não ouve? 
Não é propriamente fácil descrever este livro, que, em jeito de fábula, parece satirizar o autoritarismo ditatorial, ao mesmo tempo que pondera sobre a derradeira forma de controlo - a da palavra. Não é fácil, porque parte do seu encanto prende-se precisamente com a estranheza de um mundo tão completamente bizarro - e, ao mesmo tempo, com tantos pontos em comum a um regime não muito distante. É, aliás, essa a grande magia desta história: é fácil reconhecer a realidade e, porém, a história não se cinge a ela. E, assim de peculiaridade em peculiaridade, imagina-se outro mundo e questiona-se este, que, passadas décadas da altura em que o livro foi escrito, pode agora ser diferente em muitos aspectos, mas tem ainda uns quantos pontos em comum. 
Peculiar será talvez uma boa palavra. E, sendo a história no seu todo - e nos pormenores também - peculiar, também a forma como é contada preenche esse requisito. Os diálogos, as divagações, os laivos elogiosos com sombras de crítica subtil. E as ilustrações, que, num estilo também ele invulgar, completam essa tão clara imagem de peculiaridade. Tudo isto reforça a ideia que fica da história: a de uma entrada num mundo novo, em parte fictício, mas com laivos de realidade.
Será todo este mundo inteiramente plausível? Talvez não. Mas a verdade é que também não importa que seja. A forma como a história é contada torna-o natural e, além disso, as ideias subjacentes ao enredo não perdem em nada com a vaga estranheza de certas circunstâncias. E, sendo certo que ficam questões em aberto, também faz sentido que assim seja. Quase como que prenunciando um certo saudosismo futuro...
Bizarro, surpreendente e cativante em toda a sua estranheza: assim se poderá, pois, descrever este livro, que, num muito eficaz olhar sobre outros tempos, nunca deixa de ser relevante e actual. Muito interessante, delicioso de se ler... e muito bom, pois claro. 

Autor: José Cardoso Pires
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Um romance turbulento, baseado numa história real.

Um homem, duas mulheres, uma criança. A história de um triângulo amoroso à luz do que são hoje as relações sentimentais, marcadas por separações e recomeços e jogos psicológicos variados. Um romance onde se fala de paixão, desejo, raiva e um medo incrível da loucura. Também tem ameaças, mentiras e sexo. E humor, esse lado cómico que existe em todos os episódios, até nos mais trágicos.
O que nos leva a apaixonarmo-nos e deixar tudo para trás? Como é possível mentirmos para obrigarmos alguém a ficar ao nosso lado. É normal um pai não gostar de um filho? E o amor, sempre o amor, é hoje uma doença ou a única terapia?Isabel sempre disfarçou os seus sentimentos debaixo de uma capa de serenidade, sobretudo desde que o irmão enlouqueceu depois de assistir a uma autópsia. Mas apaixona-se.
Uma história de amor escandalosamente contemporânea, que fala de desejo e raiva, da violência do fim dos casamentos e da luta em torno da guarda dos filhos, da culpa de quem decide partir e de como isso pode arrasar o futuro.

Dulce Garcia. Tem 46 anos e é jornalista desde 1991. É fundadora da revista Sábado, onde exerce actualmente as funções de subdirectora. Colaborou com o Diário Económico, o Correio da Manhã, a Máxima e a GQ, entre outras publicações.
Lembra-se do primeiro dia em que entrou numa biblioteca. Isso mudou a sua vida. Nunca mais parou de ler. A colecção «Dois Mundos» apresentou-a a Hemingway, Somerset Maugham, Dostoievski, Tolstoi, Camus, e a vida atirou-lhe com Kafka, Mishima, Sylvia Plath, Marguerite Duras. Também leu algum lixo, claro. As pérolas brilham mais no meio do aterro. Gostava de escrever como Julian Barnes e Ian McEwan. Não tem ilusões, mas faz o que pode. Este é o seu primeiro romance.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Confissões de Inverno (Brendan Kiely)

Aidan Donovan sente-se mergulhado no caos. Aos dezasseis anos, tem de lidar com o facto de o pai ter saído de casa, com a forma como a mãe esconde a fragilidade sob uma máscara de ânimo inesgotável e com a sua quase inexistente vida social. Conforto, encontra-o apenas na figura do padre Greg, que lhe fala de amor e de compreensão. Até ao dia em que percebe que o amor do padre é tudo menos santo, altura em que começa a questionar o que realmente se passa à sua volta. E, perdido num caos que todos pretendem manter secreto, encontra nos amigos o refúgio de que precisa para seguir em frente. Mas, quando seguir em frente significa ignorar e fingir, poderá Aidan realmente ficar bem?
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que nunca será uma leitura fácil. Não porque a escrita seja particularmente elaborada ou o enredo demasiado denso. Não é. Mas o tema, esse, é angustiante. É revoltante, e, assim sendo, não pode deixar de despertar sentimentos fortes. E a forma como o autor desenvolve o tema, construindo a partir da visão do protagonista, faz com que tudo se torne mais nítido, mais intenso, mais perturbador. Assim, descobrir estas Confissões de Inverno é descobrir crueldade onde ela não devia ser permitida. E saber que essa mesma crueldade existe no mundo real só torna tudo ainda mais perturbador.
Mas, se o tema basta para abalar - e, principalmente, para fazer pensar - também a forma como o autor constrói a história reforça este impacto. Primeiro, pelo mundo que constrói em torno de Aidan, cheio de indiferença e de secretismo. Com um pai ausente, uma mãe focada em si mesma e muito poucos amigos, Aidan é vulnerável em todos os aspectos, mas surgem também, nos momentos certos, os necessários laivos de afecto - do verdadeiro - para recordar que nem tudo no mundo é crueldade. E isto torna a história mais realista, pois, sendo certo que não há finais felizes, também o é que nem tudo é tenebroso, nem mesmo face aos mais negros abismos da humanidade.
E depois há o próprio Aidan, personalidade vulnerável, mas marcante na forma como, posto no cerne do caos, consegue, ainda assim, revelar-se em toda a sua humanidade. Facilmente desperta empatia (principalmente, tendo em conta o carácter de alguns dos que o rodeiam), mas, mais do que isso, não se torna num mártir, e muito menos num ser perfeito. Aliás, as complexidades da sua personalidade realçam também o impacto daquilo que lhe foi feito, e a forma como o autor constrói estes contrastes é algo de realmente impressionante.
Voltando ainda à questão do realismo, não se espere deste livro um final arranjadinho, com todas as respostas. Ante um cenário tão complexo, e tão mais amplo que a história do próprio Aidan, não seria realista uma história em que tudo encontrasse uma conclusão absoluta. Mas tudo converge para um ponto de viragem, e esse culmina num final mais que adequado. Sem todas as respostas, sim, mas com todas as possibilidades. 
Que mais dizer deste livro, então? Que abala, que perturba, que dói, às vezes. E que, tão relevante como perturbador no tema que aborda e na voz que lhe dá, se entranha na memória desde muito cedo e lá permanece bem depois de lida a última frase. Intenso, marcante, angustiante, memorável. E muito, muito bom. 

Título: Confissões de Inverno
Autor: Brendan Kiely
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Vamos voltar a 1966. Em Inglaterra, Portugal vai entrar em campo para jogar com a Coreia do Norte. O pé de Eusébio vai pisar daqui a nada a relva. Mas não é para Inglaterra que este livro do angolano Manuel Rui nos leva. É mesmo para Angola, para uma solitária estrada de Angola. Está Eusébio a entrar em campo e está um camião em viagem. Saído do Lubango, Sá da Bandeira colonial, por uma estrada de Angola vai um camião sem auto-rádio. É dia 23 de Julho de 1966, um sábado. Um camionista fala com o pendura a quem deu boleia. Fala de Eusébio, do que espera de Eusébio, da forma como mitifica Eusébio. E falando de Eusébio, fala dos seus preconceitos, dos seus medos, da estranheza das outras raças. Em Inglaterra, Eusébio está em campo e Portugal joga contra a Coreia do Norte. O camionista acelera, quer saber o resultado na primeira tasca de estrada que apanhe. Vai num alvoroço patriótico. Quer a glória desportiva. E, no entanto, espera-o um resultado desencantado. Para ele, kaputo camionista, um resultado humilhante. Poderá o mito de Eusébio resistir ao choque?
Manuel Rui, com uma mestria insuperável, com um camião, Botija ao volante, e Tó-Tó, à boleia, sentado ao seu lado, escreve uma ficção encantatória, uma pequena novela. Com o espírito de Eusébio a cobrir Angola como um véu de amargura, de redenção e, talvez, de glória, resgatando, golo a golo, uma pátria triste.
A esta sua quase épica ficção, Manuel Rui quis juntar o prefácio de David Borges, e textos de Carla Ferreira, filha de Eusébio, de Boaventura Sousa Santos, José Jorge Letria, e outros amigos. Um livro tão original que até Boaventura Sousa Santos confessa a Manuel Rui: «os sociólogos não sabem andar de boleia».

Manuel Rui. Nasceu no Huambo, a 4 de Novembro de 1941. Licenciado em Direito, em Coimbra, foi ministro no governo de transição, em 1975, integrando a representação de Angola em organismos internacionais como a OUA e a ONU.
É poeta, contista, dramaturgo, romancista e cronista. Escreveu a letra do Hino nacional angolano e letras de canções. Participou em filmes, como figurante e declamando poemas, mas também escrevendo diálogos. 
Do espanhol ao mandarim, os seus livros estão traduzidos em mais de doze línguas. Publicou, em 1977, Sim Camarada!, o primeiro livro de ficção angolana pós-independência. Quem Me Dera Ser Onda converteu-se num clássico da literatura escrita em português. O Kaputo Camionista e Eusébio é o seu mais recente livro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Parabéns, Chase! (Nickelodeon)

Chase faz anos e os amigos da Patrulha Pata estão decididos a organizar-lhe uma festa. Mas os planos complicam-se quando a luz falha devido a uma avaria. É preciso resolver o problema e, ao mesmo tempo, continuar com os preparativos para a festa - nem que seja às escuras. Felizmente, a Patrulha Pata está habituada a resolver problemas. E, com o engenho de todos para lhe fazer frente, não é um simples apagão que lhes vai estragar os planos...
Sendo esta a minha segunda leitura das aventuras da Patrulha Pata, e em tudo semelhante ao livro anterior, a verdade é que não há muito de novo a dizer sobre este livro. As características essenciais são as mesmas e, portanto, as qualidades a destacar também. Mais uma vez, sobressai a simplicidade da história, claramente direccionada para os mais novos e, assim, centrando-se numa descrição muito sucinta dos acontecimentos. Mais uma vez, a imagem completa o texto, dando mais vida a uma história que é, no fundo, muito breve. E, mais uma vez, há uma certa inocência nos acontecimentos que, apesar de tornar alguns deles pouco plausíveis, não deixa de ser estranhamente cativante.
Também no que toca aos outros aspectos a impressão é a mesma. As personagens vão surgindo na medida em que são essenciais para a história e, sendo esta muito breve, fica a impressão de que quem já conhecer melhor este grupo de amigos (dos desenhos animados ou de leituras anteriores) tirará mais proveito desta pequena aventura. No que me diz respeito, fica uma certa curiosidade insatisfeita e a sensação de tudo acontecer bastante depressa - mas, claro, já há uns bons anos que deixei de pertencer ao público-alvo deste livro. 
A impressão que fica é, portanto, basicamente a mesma: a de um livro breve, mas leve, bonito e divertido. Uma boa história para os mais novos e, principalmente, para os fãs incondicionais da Patrulha Pata. 

Título: Parabéns, Chase!
Autor: Nickelodeon
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

A Abi mal consegue sair da cama desde que o Joseph, o amor da sua vida, a abandonou, alegando que são incompatíveis.
Quando o ex-namorado lhe devolve uma caixa com os pertences dela, a Abi encontra uma folha escrita pelo Joseph com dez desejos que nunca imaginou que ele quisesse concretizar. E que a faz pensar: haverá melhor maneira de reconquistá-lo do que realizando todas as tarefas da lista e provando que eles formam um par perfeito?
Mas existe um pequeno problema… ou melhor, dez. A Abi não é muito aventureira e tem pânico de alturas, o que não é o ideal para quem tem de escalar uma montanha, dar a volta à ilha de Wight de bicicleta e, por último, mas não menos importante, descer de rapel um dos edifícios mais altos da cidade.
Completar esta lista vai exigir toda a coragem da Abi — e muita ajuda por parte dos seus amigos.

Anna Bell é uma autora inglesa que já conta com vários romances publicados. Assume-se como uma romântica incurável que ainda acredita em finais felizes, e a sua maior ambição é escrever livros que façam as pessoas rir.
Escreve semanalmente uma coluna para o site Novelicious — The Secret Dreamworld of an Aspiring Author — e é membro da Romantic Novelists' Association.

Ele era um deles… Agora, é um alvo a abater.
Há cinco anos, Carter Blake abandonou a organização secreta governamental para a qual trabalhava, a Winterlong, com uma condição: ele prometia não divulgar o tipo de operações duvidosas que realizavam e em troca deixavam-no viver em paz. Mas a liderança da Winterlong mudou e agora eles querem-no fora de cena, de vez.
Alheio a este facto, Blake, que passou a dedicar-se a encontrar pessoas que não querem ser encontradas, aceita um novo serviço: procurar Scott Bryant, que roubou à empresa de software onde trabalha um programa que promete revolucionar as redes sociais. A missão não é das mais difíceis e Blake descobre rapidamente o paradeiro do ladrão desaparecido.
Quando se prepara para trazer Bryant de volta, juntamente com o software roubado, Blake recebe uma mensagem misteriosa, que o leva a concluir que a sua antiga organização anda atrás dele. É então que Blake passa de caçador a presa e tudo muda. Restam-lhe duas opções: fugir para sempre ou virar o jogo a seu favor e acabar de vez com a Winterlong. O confronto com o passado é inevitável, mas conseguirá ele sobreviver?

Mason Cross nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1979. Licenciou-se em Línguas e fez uma pós-graduação em Tecnologias de Informação, o que lhe permitiu descobrir que tem muito mais êxito com as palavras do que com os computadores.
Sempre se dedicou à escrita, sendo autor de um número considerável de contos policiais, incluindo A Living, que foi finalista do prémio Quick Reads «Get Britain Reading».

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Grandes Histórias de Amor - O Livro dos Amantes (José Jorge Letria)

Trágicos ou inebriantes, eternos ou fugazes, de tumulto constante ou perfeita harmonia. Intensos, marcantes, comoventes, terríveis, insuperáveis. Com todas estas palavras - e muitas mais - se poderiam descrever os grandes amores da história. E são, pois, esses amores famosos e intemporais, o tema deste livro que, de forma sucinta, mas esclarecedora, nos conta as histórias das vidas amorosas de algumas muito importantes figuras históricas.
Sendo certo que a alma essencial deste livro (como de todos, aliás) é, acima de tudo, o conteúdo, importa, neste caso, referir, antes de mais nada, o aspecto visual. É que basta um primeiro contacto com o livro, cheio de imagens dos seus principais protagonistas e, no geral, muito apelativo, para despertar a curiosidade para as histórias contidas no seu interior. Histórias que são, naturalmente, o mais relevante, mas que não deixam de ganhar mais vida pelos traços visuais que lhes caracterizam a apresentação.
Também relevante, no sentido de que tanto se pode ler este livro de uma ponta à outra, como usá-lo para consultar a história de um casal em específico, é a forma como o livro está organizado, partindo do princípio de tudo (e por princípio refiro-me mesmo a Adão e Eva) e seguindo através dos tempos até às personalidades mais recentes. Torna-se fácil, assim, encontrar o que se procura, seja por ser aquela personalidade específica que mais curiosidade desperta, seja por, depois de lido ao livro, se querer voltar a uma história especialmente marcante. 
Mas falemos das histórias. Resumidas a poucas páginas e aos acontecimentos essenciais, fica, inevitavelmente a sensação de que muito mais haveria a dizer. Muitas delas, aliás, bastariam para servir de base a um romance. Mas o mais interessante é mesmo isto: o essencial está lá. Os pontos de viragem, os gestos reveladores, a forma como o amor nasceu e as consequências que teve... tudo o que realmente importa para conhecer a base destas histórias de amor está presente e é-nos narrado de uma forma muito clara. E, assim, a impressão que fica é a de um belo retrato global do amor através dos tempos - e de um bom ponto de partida para posteriores descobertas mais extensas.
Bonito, cativante, muito agradável de ler. E também com vários rasgos de poesia, como convém a um livro que é todo ele sobre o amor. Assim se define, pois, esta breve mas emocionante viagem aos meandros do amor - em todos os seus aspectos. Viagem que, tão envolvente como esclarecedora, nunca podia deixar de ser uma boa leitura. 

Título: Grandes Histórias de Amor - O Livro dos Amantes
Autor: José Jorge Letria
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O Trilho da Morte (Sara Blædel)

Sune Frandsen está desaparecido há duas semanas. E, curiosamente, o pai não parece muito empenhado em encontrá-lo. Mas a passagem do tempo e a ausência de pistas levaram a que o caso passasse para as mãos de Louise Rick e esta não está disposta a descartá-lo - muito menos quando se apercebe de que o pai do rapaz é uma pessoa do seu passado. As poucas pistas parecem apontar para um grupo que se reúne na floresta, crentes nos antigos deuses nórdicos que aí realizam os seus rituais. Mas a verdade é bem mais tenebrosa e a descoberta de que Sune anda fugido na floresta é apenas o início. Há um motivo sério para o rapaz andar em fuga. E há ligações entre esse motivo e o passado da própria Louise...
Se, no anterior As Raparigas Esquecidas, a impressão que ficava era a de uma história inicialmente distante, mas que se afirmava aos poucos nas grandes revelações, bem como nas perguntas deixadas em aberto, pode-se dizer que este novo livro é completamente diferente. Porquê? Primeiro, porque é incrivelmente fácil entrar na mente das personagens, tanto no caso das já conhecidas, como dos novos elementos. Mas também, e acima de tudo, pelo crescendo de intensidade que, desde as primeiras páginas e até aos últimos momentos, nunca deixa de se fazer sentir. E isto é mais do que suficiente para fazer do que é, à partida, uma história promissora, uma leitura verdadeiramente memorável. Mas vamos por partes.
No livro anterior, estabeleceu-se aos poucos um estranho equilíbrio entre o caso que Louise tinha em mãos e os mistérios do seu passado. Ora, este equilíbrio ganha aqui toda uma nova dimensão, pois o desaparecimento de Sune está intimamente ligado a pessoas que Louise sempre conheceu. E aqui está um dos grandes pontos fortes deste livro: a forma como a autora entrelaça as várias facetas do enredo, construindo uma intriga complexa e sempre fascinante, em que tudo parece ser possível e em que, mesmo sabendo, à partida, quem são os possíveis responsáveis, não há como saber o que pode acontecer.
Há também uma maior proximidade para com as personagens. Claro que parte disto pode dever-se ao conhecimento prévio adquirido no livro anterior, mas não totalmente. Isto porque se Louise, Camilla e Eik, entre outros, são já familiares, o mesmo não se pode dizer de Sune, que, nalguns momentos, consegue ser a mais cativante de todas as personagens. Além disso, também o próprio mistério alimenta esta sensação de proximidade, pois a tensão das circunstâncias, associada ao aspecto religioso e à forma como essas crenças são manipuladas torna toda a situação mais intensa, realçando também os laços de proximidade - ou de dependência - das diferentes personagens.
E tudo isto é escrito de uma forma que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, já que as descrições conferem à narrativa um ritmo mais pausado, nunca deixa de fascinar. Talvez pela forma quase perfeita como a autora descreve os momentos mais intensos, talvez pela muito bem conseguida caracterização do aspecto mitológico. Talvez pela conjugação de todas as partes, todas elas narradas de forma fluida e envolvente. 
Intenso, sempre cativante, capaz de despertar todas as emoções em todos os momentos certos, não há neste livro um único instante de distância. E isto, associado ao leque de personagens fortes e a um mistério onde em tudo há potencial para surpreender, não pode deixar de dar bom resultado. A soma de tudo é, pois, um livro memorável. E muito, muito bom. 

Título: O Trilho da Morte
Autora: Sara Blædel
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Lady Isabel Townsend é uma sobrevivente, uma mulher que nunca desiste.
Mas agora terá pela frente o maior desafio da sua vida: o amor.

O fascinante Nicholas St. John tem sido objecto de assédio por todas as jovens em idade de casar desde que foi nomeado O Lorde Mais Cobiçado de Londres por uma revista conceituada. E por isso procura fugir, sempre que possível, dos eventos sociais onde é cortejado e perseguido. Até que, inesperadamente, encontra uma mulher diferente de todas as outras: misteriosa, independente, decidida, mas ao mesmo tempo sensual.
Lady Isabel Townsend, irmã do actual Conde de Reddich, é uma mulher atraente, com muitos segredos e pouco dinheiro. Embora Isabel sempre tenha cuidado de si própria, a morte recente do seu pai deixou-a perdida e a precisar urgentemente de ajuda. Lorde Nicholas é o alvo perfeito para o golpe da sua vida… ela só tem de seguir os dez segredos que lhe garantam este homem desejável. Mas Isabel precisa de ser cautelosa e não fazer nada imprudente e tolo, como entregar-se ao amor.

Sarah MacLean nasceu em Rhode Island, na costa leste dos Estados Unidos. É autora bestseller do New York Times e do USA Today.
Desde adolescente que desejou ser romancista. O seu amor pela ficção histórica levou--a a formar-se em História da Europa no Smith College, em Massachusetts, e em Ciências da Educação, na Universidade de Harvard. Mudou-se para Nova Iorque para se dedicar à carreira na escrita, e é aí que ainda hoje vive com o seu marido, o seu cão, e a sua imensa colecção de romances.
É colunista no Washington Post. Venceu duas vezes o Prémio RITA para Melhor Romance Histórico, atribuído pela Associação Americana de Escritores de Romance, com os livros Um Marquês Irresistível e Um Duque Glorioso.

Divulgação: Novidade O Castor de Papel

A vida encontra-se recheada de dúvidas e de escolhas. Através da utilização de pêndulos é possível obter informações de modo a fazer opções mais corretas; o pêndulo é uma ferramenta que pode ajudar-nos a decidir com mais segurança. Este tipo de consultas permite encontrar o equilíbrio entre a razão e a emoção, os dois hemisférios do nosso cérebro, sempre em confronto. 

José Medeiros apresenta nesta nova obra um manual simples, prático e completo, acompanhado de 65 tabelas auxiliares, com as instruções necessárias para que tenha acesso fácil a esta técnica de autoconhecimento. Leia com atenção esta obra e utilizando um pêndulo verá que o caminho se torna mais fácil. Que as suas experiências nesta vida lhe permitam encontrar as respostas para as dúvidas que tem, a percorrer o bom caminho e a vencer o bom combate.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Divulgação: Novidade Porto Editora

Espanha, 1950. Num país que ainda procura recuperar dos traumas da guerra, Arturo Andrade é chamado a investigar o misterioso assassinato de uma criança em Pueblo Adentro, uma aldeia a poucos quilómetros de Badajoz, a sua cidade natal, e centro da resistência anarquista da Extremadura.
Arturo cedo se dá conta de que este crime é apenas a ponta do icebergue de uma bem montada rede de tráfico infantil que fez desaparecer mais de 30 mil crianças. Um elemento fundamental deste sórdido esquema é o Auxílio Social, instituição encarregada de «reeducar» os filhos dos prisioneiros republicanos, derrotados na Guerra Civil. Por detrás, uma teia de interesses que envolve as mais altas esferas do regime.
Com este notável romance, Ignacio del Valle põe a nu a grande mentira de uma certa Espanha franquista, que sob a enganosa aparência de fomentar o progresso do país leva a cabo uma série de crimes atrozes, muitos dos quais passaram incólumes pelo crivo da História.

Ignacio del Valle é autor da série de suspense histórica protagonizada pelo emblemático Arturo Andrade, que integra A arte de matar dragões, O tempo dos imperadores estranhos (adaptado ao cinema sob o título Silencio en la nieve), Os demónios de Berlim e Céus negros, todos eles alvo de variadas distinções literárias.
Escreve colunas de opinião nos diários El Comercio de Gijón e Panamá América, colaborando com o suplemento El Viajero do jornal El País, entre outras publicações. Dirige a secção cultural «Afinando los sentidos», da Onda Cero Radio.