Para Auraya, a vitória dos Brancos não foi o final dos seus problemas. Pesadelos recorrentes atormentam as suas noites e a única solução que lhe proporcionaria algum alívio é, tendo em conta a sua posição, inaceitável. Além disso, a sua missão implica criar uma união que poderá ser prejudicial para os seus aliados e este conhecimento atormenta-a. Entretanto, longe do seu alcance, Leiard luta com as memórias de um líder há muito perdido, mas que julga ter tomado posse do seu corpo. As suas memórias fundem-se com as do lendário Mirar ao ponto de nenhum deles saber a quem pertence, verdadeiramente, o corpo que partilham. E, enquanto os Pentadrians recuperam da sua pesada derrota, serão as revelações de Leiard e Auraya a mudança no caminho dos deuses... e dos que os seguem.
Se, do primeiro volume, se evidenciavam o ritmo pausado e a vastidão de um mundo com muito para assimilar, mas construído de forma cuidada e descrito com fluidez, O Tecedor de Sonhos acrescenta agora uma maior diversidade de perspectivas. Ao explorar mais a fundo o ponto de vista dos Pentadrians, a autora desenvolve um novo culto que, sendo inimigo dos Adoradores do Círculo, tem com este uma série de paralelismos - tanto nos ritos como nas alianças estabelecidas. Isto serve como base para uma interessante reflexão sobre as diferentes opções religiosas, e dá início a um percurso que mudará a situação de ambos os cultos (e dos seus líderes). Além disso, ao percorrer diferentes perspectivas - Selvagens, Tecedores de Sonhos, Adoradores do Círculo, etc. - a autora dá ao seu mundo uma maior complexidade, tanto a nível de ambientes como de narrativa e até de personalidades em interacção, já que há vários pontos de vista a seguir neste livro.
Há, portanto, muitas personagens que se destacam e muitas intrigas que se cruzam. Emerahl na sua busca pelos seus iguais, Auraya na sua capacidade de questionar e de compreender as consequências de cada escolha, Leiard e Mirar na sua dualidade... Tudo isto faz com que, apesar do ritmo pausado e da escrita algo descritiva (ainda que menos no primeiro volume), a leitura nunca perca a envolvência, mantendo-se a curiosidade em saber o que virá depois, quer no crescimento e nas escolhas das personagens, quer na interacção entre os vários grupos.
O final não tem um impacto tão vasto como o do primeiro volume, sendo antes mais pessoal, mais centrado nas escolhas próprias das personagens. Termina, aliás, com uma série de perguntas sem resposta, deixando no ar muitas possibilidades para o que poderá suceder no volume final.
Com um muito interessante equilíbrio entre a situação global do mundo apresentado e os dilemas pessoais das personagens, O Tecedor de Sonhos apresenta (tal como o primeiro volume) uma história cativante, com a dose certa de emoção e reflexão, várias personagens carismáticas e um mundo cheio de intrigas e possibilidades. Recomendo sem reservas.
Li o primeiro, gostei mas não fiquei fã. Depois da tua opinião fiquei com imensa vontade de ler o segundo, no entanto não recordo totalmente da história do primeiro livro.
ResponderEliminarÉ dada alguma informação para recordar o leitor do livro anterior Carla?
Obrigada.
Olá. Eu adorei o primeiro... e este também. :) Os grandes acontecimentos do primeiro livro vão sendo referidos, mas não há propriamente um resumo do que aconteceu antes.
ResponderEliminarObrigado Carla. Penso que com a ideia que eu tenho dos acontecimentos com as passagens referidas serei perfeitamente capaz de compreender a leitura na totalidade.
ResponderEliminarEu também me recordo de gostar do livro, mas... tu sabes, lemos tanta coisa que por fazes apenas restam as sensações e eu li o primeiro livro antes de ter o blogue onde agora deixo as minhas opiniões pessoais e também me serve de memorando no caso de sagas que são editadas com maior espaço de tempo entre publicações. *