quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tudo o que Poderíamos Ter Sido Tu e Eu se Não Fôssemos Tu e Eu (Albert Espinosa)

Marcos tem um dom. Com um simples olhar, consegue ver o melhor e o mais terrível das recordações de qualquer pessoa, bem como outras doze recordações intermédias. Até agora, esse dom serviu-lhe para uma colaboração relevante com as forças de segurança. Mas tudo pode mudar. No dia em que decide deixar para sempre de dormir. No dia em que a imprensa descobre que há um possível alienígena na terra. No dia em que se cruza com uma mulher que lhe provoca sentimentos inexplicáveis.
Normal e improvável fundem-se nesta história simples, mas envolvente e com uma força emocional surpreendente. Seres de outros planetas e um sistema para renunciar às horas perdidas no sono confundem-se com uma vida quotidiana com que qualquer leitor se pode identificar: as perdas, as expectativas, as paixões. E é interessante como, em cerca de duzentas páginas escritas num estilo acessível e algo irreverente, o autor consegue construir uma história com tanto de peculiar e que, na sua simplicidade, consegue apelar às emoções de quem lê.
Não há explicações profundas para os fenómenos mais improváveis introduzidos neste livro. São, na verdade, apenas um elemento para a história de vida de Marcos (e dos que o rodeiam) e, por isso, são exploradas apenas na medida em que são essenciais à história. Há, ainda assim, algo de cativante em toda a teoria da(s) vida(s) e em toda a mensagem de amor mais forte que a morte, mensagem que é, afinal, a grande força a ser retirada de toda a história do estranho.
Se o bem é abordado com simplicidade (e com uma certa ternura), também no mal os pormenores são evitados. Da experiência do estranho nas mãos dos que o querem explorar não se retiram grandes detalhes do quanto lhe terá sido feito, mas principalmente uma visão bastante clara do que é, afinal, um cenário bastante comum no nosso mundo: a discriminação da diferença e a tendência para a menorização ou neutralização do que não podemos compreender.
Fica, pois, de tudo isto, um impacto final claramente positivo no que diz respeito a esta leitura. Cativante, num estilo muito próprio onde presente e memória, possível e improvável se juntam para construir uma mensagem muito forte, há muito de impressionante a descobrir neste livro. Uma boa história, com um grande final... e muito para reflectir.

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