terça-feira, 8 de novembro de 2011

Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou (Kjersti Annesdatter Skomsvold)

Com a notável excepção de Epsilon, o marido, Mathea nunca soube como se relacionar com as outras pessoas. Agora, passada toda uma vida de solidão, preocupa-a a proximidade de morte e a impressão de que nenhuma marca da sua existência ficará para a posteridade. Assim, Mathea percorre as suas memórias, encontra gestos peculiares que julgue capazes de a tornar memoráveis... E, entre a recordação e o presente, revive a sua vida peculiar, numa estranha tentativa de chamar a atenção de um mundo que nunca a viu verdadeiramente.
É difícil definir este livro, mas talvez peculiar seja uma boa palavra para começar. Peculiar pela protagonista, com todas as suas pequenas fobias e obsessões, pela expressão ao ritmo da memória, entrelaçando situações do presente com um passado percepcionado com a parcialidade da memória e, acima de tudo, pela sensação de estranheza deixada por uma vida longa, mas ignorada, curiosa, mas trágica de uma forma pessoal.
Não há uma história linear para acompanhar, mas antes uma série de episódios que definem uma vida longa e uma série de estranhas tentativas de a prolongar - ainda que apenas na memória dos outros. E é desta oscilação entre presente e memória que se define a solidão que é, afinal, o ponto predominante na vida de Mathea. Nas suas peculiaridades, por vezes divertidas, por vezes simplesmente estranhas, transparece um vazio raramente assumido, mas evidente ao longo de toda a história. A falta de um contacto com o mundo, a necessidade de ser vista para alguém que, durante toda uma eternidade, terá sido simplesmente ignorado.
Ficam, portanto, desta leitura, uma evocação de sentimentos ambíguos. Com um estilo de escrita muito próprio e um equilíbrio bastante interessante de momentos curiosos com uma mensagem global algo triste, há toda uma reflexão sobre a vida do indivíduo e a sua interacção (ou falta de) com a sociedade. Algo que se divide entre a necessidade de se dar a ver ao mundo e o medo de se revelar. E é isso o que mais marca, terminada a leitura: a reflexão sobre a mortalidade e, perante esta, o que somos e o que quereríamos ser.

2 comentários:

  1. http://www.ciropaivadias.com.br/2010/07/uma-boa-palavra.html

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  2. Acabei de o adquirir. Tenho boas expectativas em relação a este livro.

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