domingo, 14 de outubro de 2012

Calix Christi (Luís Correia)

Durante umas férias em Linhares da Beira, Luís ouve falar, pela primeira vez, do Gargantas e do tesouro que este se gabou de ter encontrado. Tomada como uma história inventada por simples gabarolice, a suposta existência desse tesouro nunca foi mais que razão de troça para as gentes do lugar. Mas Luís sente-se intrigado e decide saber mais sobre essa história. E quando Liliana, a filha da dona da casa onde se encontra, entra em cena, Luís encontra não só uma parceira de investigação, mas um possível amor. Nos versos deixados pelo Gargantas encontram pistas para aquilo que procuram, mas é preciso agir com o máximo secretismo. E talvez o valor do que estão prestes a encontrar seja maior do que imaginam.
Tendo em conta que a base deste livro é a busca de um tesouro, é curioso notar que os possíveis perigos dessa busca são, afinal, abordados de forma bastante discreta. Apesar do valor dos objectos em questão, as verdadeiras ameaças não são muitas e acabam por se resolver de forma relativamente simples. Não há, portanto, grande acção neste aspecto, sendo o enredo centrado mais na busca e na resolução das pistas e, depois, nas decisões relativas ao que fazer com as respostas que vão surgindo. Isto não torna a história menos envolvente, já que, se os protagonistas não se deparam com grandes obstáculos externos à sua busca, têm, ainda assim, o mistério para resolver. E, no que toca ao mistério, há alguns momentos particularmente interessantes, principalmente no que diz respeito ao engenho na construção dos esconderijos, mas também na forma como os protagonistas agem para manter secretas as suas acções. 
Além disso, há outros aspectos para lá desse mistério que, apesar de serem secundários à linha principal do enredo, acabam por estar na base dos momentos mais cativantes. A caracterização da vida numa localidade pequena - com os característicos mexericos e o ambiente em que todos sabem o que se passa com todos - representa com bastante precisão o ambiente real e a construção dos laços familiares, principalmente do lado de Liliana acrescenta à história um toque de ternura.
A escrita é relativamente simples, mas agradável e envolvente, no geral, e o ritmo, não sendo propriamente compulsivo, acaba por se adequar bem à história. Desta, fica a impressão de que, por vezes, as personagens conseguem evitar alguns conflitos que seriam expectáveis, não havendo grandes dificuldades externas no seu percurso. Ainda assim, o mistério é cativante, assim como a interacção entre personagens.
Trata-se, pois, de uma história agradável e interessante, que, apesar de alguns aspectos (nomeadamente a nível dos obstáculos no caminho das personagens) que poderiam ter sido mais desenvolvidos, apresenta também vários momentos bem conseguidos. Uma leitura cativante, portanto, e que apreciei.

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