terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Mundo Invisível (Katherine Webb)

1911. A jovem Cat Morley acaba de ser admitida como criada na reitoria de Cold Ash Holt. O vigário e a mulher vêem a sua chegada como um gesto de caridade da sua parte já que, depois de meses de cárcere por um suposto crime que eles próprios não conhecem, poucos estariam dispostos a admitir Cat nas suas casas. Mas a chegada de Cat é apenas um acontecimento menor na grande mudança que está para ocorrer. E essa desperta no momento em que Albert Canning, o vigário, se interessa pelas teorias de um teosofista e se deixa iludir ao ponto de julgar ter visto fadas. A reitoria ganha então um novo hóspede e Robin Durrant, o teosofista, passa a ser a máxima influência nas vidas dos habitantes daquele lugar. Entretanto, a jovem Cat lida com os traumas da sua experiência e conquista, por pequenas transgressões, a medida possível de liberdade, sem saber que a conclusão da sua história será um mistério a desvendar, um século depois, por uma jornalista curiosa e pelo descendente dos Canning.
Apesar da existência de duas histórias que, separadas pelo tempo e, portanto, retrato de épocas diferentes, estabelecem ligações ao longo do livro, a história de Cat Morley e do mistério da reitoria é claramente dominante relativamente à de Leah e da sua investigação. Ainda assim, ambas se completam, quer pela ligação que Mark tem com os Canning do passado, quer pela forma como parte do mistério é revelado através dos olhos de Leah e não das personagens que viveram esse mesmo mistério. Além disso, ao alternar entre as duas épocas, a autora consegue criar, ao mesmo tempo, um tom enigmático que torna a leitura viciante e um contraste muito bem conseguido entre os costumes e mentalidades dos dois tempos da narrativa.
A forma como a autora traça as linhas do mistério, levantando possibilidades para depois surpreender com as revelações, é, pois, um dos grandes pontos fortes deste livro. Mas há mais. A sombra do passado, que marca as vidas de personagens tanto na história de Cat como na de Leah, é um elemento sempre presente e a forma como esse passado molda os percursos e as personalidades das personagens é também algo de fascinante. As personagens são complexas e as suas histórias vivem tanto das pequenas alegrias e das tragédias pessoais como do grande mistério no centro da narrativa. Há muito mais para lá da simples resposta para o que aconteceu na reitoria e o percurso particular deste conjunto de personagens que, não sendo intrinsecamente bons nem naturalmente maus, consegue despertar toda uma diversidade de emoções, tem muito de cativante para descobrir.
Ainda que quase todas as personagens tenham em si algo de interessante e uma história capaz de despertar a atenção do leitor, há, é certo, algumas que sobressaem. A que mais se destaca é, naturalmente, Cat Morley. Com a sua personalidade forte, mas marcada pelas vulnerabilidades de demasiadas experiências difíceis, um passado complicado e com uma certa medida de sentimentos de culpa, Cat representa tudo o que de mais importante há nesta história. Ao escolher lutar pelos seus direitos e sofrer as consequências, Cat leva o leitor a questionar as convenções sociais e a considerar as mudanças de mentalidade ao longo dos tempos. Na sua ânsia de liberdade e na forma como esta conduz a sua história, Cat revela-se em todo o seu carisma, mas também na sua máxima fragilidade, e é isso que a torna tão humana, tão complexa e tão fascinante.
Com tanto de mistério e um ambiente que se torna, a cada novo acontecimento, um pouco mais sombrio (tanto a nível do ambiente familiar na reitoria como na forma como Robin Durrant se insinua como motivador de um drama por suceder), esta é uma história que, desde cedo, revela que o final nunca poderá ser fácil. Também neste aspecto se revela a mestria na construção do enredo. De mistério em mistério, deixando pistas que, aos poucos, encaixam para formar uma resposta, a autora parte de uma história envolvente e, a cada novo acontecimento, a cada nova revelação, aumenta o impacto das circunstâncias, abrindo caminho para uma conclusão que é não só surpreendente, mas também de grande impacto emocional, já que as personagens, com os seus problemas particulares, se tornaram familiares com o evoluir da história.
Escrita cativante, ritmo viciante e uma história com as medidas certas de emoção e mistério fazem deste O Mundo Invisível um livro de leitura compulsiva. O carisma das personagens e a empatia que as suas histórias despertam, tornam-no uma obra memorável. Fascinante, comovente e surpreendente... Maravilhoso.

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