quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Anjo das Trevas (Anne Rice)

Durante anos, Toby O'Dare foi um assassino contratado, mas a visita de um anjo fê-lo compreender a vida miserável que levava. A sua redenção reside em seguir as ordens do anjo Malquias e de cumprir com sucesso as missões que lhe são entregues. Mas, se a primeira missão teve as suas tribulações, também o papel que agora lhe é atribuído tem os seus riscos. Mais uma vez, Toby tem de recuar no tempo para responder às preces de uma alma necessidade. E, enquanto encontra uma forma de ajudar Vitale a salvar o seu amigo e filho do seu senhor, enquanto procura respostas para o espírito que vive na casa e que pode ser causa de perseguição para o jovem médico judeu, há também outro tipo de espíritos prontos a desviá-lo do seu caminho. Toby tem de se manter fiel à sua fé e persistir na redenção do seu passado. Mas não é fácil, principalmente se os argumentos do adversário forem persuasivos.
É algo de característico nos livros desta autora a forma como qualquer experiência de qualquer personagem pode servir de base para alguma reflexão. Neste caso, como já acontecera em O Tempo do Anjo, a fé e o tema predominante. Para Toby, o passado é uma sombra difícil de apagar e a culpa e a consciência de que muito, talvez demasiado, seria necessário para redimir os seus actos, tornam inevitável o seu lado atormentado. Isto permite ver o máximo da sua fé e também o máximo das suas dúvidas, o que faz da sua história sobre toda uma reflexão sobre a crença e o valor da fé. Além disso, a autora acrescenta novos elementos aos já conhecidos do livro anterior. Toby fica a saber mais sobre os anjos e, através destes, sobre as ligações que deixou no passado. E assim descobre a sua capacidade de amar, tornando mais forte a vontade de corrigir os erros. Claro que a fé (e o comando dos anjos) funciona como grande motivador, mas é a vontade de fazer o melhor para com a família recém-descoberta e mesmo aqueles que conhece na sua missão que revela as suas melhores características.
Apesar de uma considerável tendência para a introspecção, o ritmo da história é bem mais intenso que no livro anterior. Isto acontece, em parte, porque o recuo do Toby no tempo o coloca imediatamente no centro da sua missão e em circunstâncias em que é necessário agir rapidamente, mas também porque a sua personalidade e o seu modo de acção são já familiares. Além disso, a nova missão de Toby tem muito de cativante, quer na tensão que define as circunstâncias, quer nas emoções fortes associadas à evolução dos acontecimentos. Há toda uma base emocional - de medo, de culpa e de inveja, mas também de afecto - capaz de despertar empatia e é esse um dos grandes pontos fortes deste livro.
O ponto fraco está essencialmente na brevidade. Fica a ideia, por vezes, de que alguns aspectos da história podiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito à missão de Toby. Toda a situação em torno de Vitale, bem como a própria questão do dybbuk, abrem portas para uma reflexão sobre os conflitos e os preconceitos de base religiosa, bem como das possibilidades dos diferentes sistemas de crença e, se esta última é bem desenvolvida, por dizer respeito à situação essencial de Toby, já o conflito está essencialmente na situação de Vitale e nalgumas das intervenções dos padres, circunstâncias que se resolvem de forma relativamente simples.
Ainda que não tenha a complexidade de outras obras da autora, O Anjo das Trevas apresenta uma história bem escrita e envolvente, feita de personagens carismáticas e de momentos intensos e de um enredo que, por entre os momentos de acção e as situações mais emotivas, consegue evocar, ainda que de forma breve, várias questões interessantes sobre as quais reflectir. Uma boa leitura, portanto.

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