quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A Síndrome de Peter Pan (Eliana G. Pyhn)

Virna e Miguel conhecem-se numa plataforma de relações online e o relacionamento entre ambos não tarda a tornar-se algo mais forte. A empatia é quase imediata e a partilha de experiências e sentimentos faz com que a relação entre ambos se aprofunde. Mas há algo de potencialmente perigoso nas interacções entre ambos. É que Miguel sofre da chamada síndrome de Peter Pan, ou seja, não está disposto a crescer, o que significa que só os seus planos e necessidades importam. Confrontada com a difícil verdade, Virna terá de fazer escolhas difíceis. Mas, quando ela própria se expôs tanto, será ainda capaz de se afastar?
Assente num elaborado exemplo prático para destacar as principais características e problemáticas da chamada síndrome de Peter Pan, este é um livro que desperta curiosidade não só pelo tema, mas pela forma como é abordado. E é também aqui que está o seu ponto forte, pois, ao transmitir as ideias através do relato da relação entre duas personagens, os traços essenciais tornam-se mais fáceis de compreender e a identificação com a realidade também muito mais clara. Além disso, a escrita bastante acessível - principalmente nas partes explicativas - também facilita a assimilação dos conceitos.
Há, porém, um outro lado. Construída com uma mensagem em mente, a troca de correspondência entre Virna e Miguel parece, por vezes, um pouco forçada, além de que, embora as fragilidades abordadas sejam todas do lado de Miguel, também do lado de Virna há comportamentos... difíceis. É fácil compreender que Virna está a ser influenciada pela personalidade de Miguel, mas não em tudo. A forma como se posiciona face ao relacionamento extra-conjugal em que se envolveu bem como os julgamentos que emite sobre as outras pessoas na vida de Miguel parecem ser, por vezes, demasiado radicais, ficando por isso a sensação de que também do lado dela haveria aspectos a abordar. E assim, se por um lado a mensagem é clara, já do exemplo prático ficam uns quantos sentimentos ambíguos.
E depois fica uma certa curiosidade insatisfeita, pois, se o exemplo parece desenvolver exaustivamente as características do diagnóstico, já as possibilidades de tratamento parecem resumir-se numa linha final, deixando a sensação de que haveria certamente muito mais a dizer quanto a este aspecto.
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura interessante e com um tema pertinente, mas em que o desenrolar um pouco forçado da correspondência e aquilo que é deixado por dizer deixam a impressão de que muito mais haveria a explorar sobre este assunto. Interessante, ainda assim. 

Título: A Síndrome de Peter Pan
Autora: Eliana G. Pyhn
Origem: Recebido para crítica

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