segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Três Minutos para o Juízo Final (Joe Navarro)

1988. O que começa por ser uma aparente missão de acompanhamento para o agente Joe Navarro revela-se o início de uma investigação labiríntica. E tudo por causa de um cigarro que treme. A mão que segura o cigarro pertence a Rod Ramsay, aparentemente amigo de um homem recentemente preso por espionagem, mas, de momento, livre de suspeitas. Só que o tal cigarro que treme é um indício de muito mais e, pressentindo isso, Joe não pode simplesmente largar o caso. E assim começa uma investigação de anos, contra a inércia dos superiores e uma mente muito mais arguta do que aparenta.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro é que, pese embora o facto de não ser ficção, se lê praticamente como um romance. A precisão das memórias e a forma como são contadas, bem como a intensidade inerente ao caso em si, fazem com que este livro tenha o mesmo ritmo cativante de qualquer bom policial. Além disso, e ainda que seja o caso o centro de tudo, Joe é bastante aberto sobre as suas próprias circunstâncias, o que transmite bastante bem o caos emocional associado a toda a situação.
Claro que há uma contrapartida em tudo isto. É que, ao ler o livro como se de um thriller se tratasse, procuram-se respostas que não podem realmente ser dadas, porque o próprio protagonista não as tem. E, claro, isto deixa uma certa curiosidade insatisfeita, nomeadamente em relação ao porquê de certas posições das autoridades superiores. 
Se isto retira impacto ao muito que é efectivamente contado? Não. E o impacto é grande, porque vem de várias fontes. Primeiro, o caso propriamente dito e as implicações cada vez mais graves que lhe estão associadas reforçam a seriedade das circunstâncias que nos estão a ser narradas. Depois, a forma como os vários intervenientes são descritos, tendo o cuidado de os reflectir enquanto seres humanos completos (e, neste caso, o inimigo de Joe é todo um posso de complexidades) torna mais fácil entender os verdadeiros meandros de toda a situação. E depois, a forma como o autor decide terminar a sua história, indo além do caso em mãos para mostrar as consequências pessoais, reforça o impacto de toda a investigação, pois lembra que todos os envolvidos - e de todos os lados - são ainda e sempre humanos.
A impressão que fica é a de um livro que, não sendo ficção, se lê como tal e que, por isso, pese embora as respostas que ficam por dar, consegue prender do início ao fim e surpreender em todos os aspectos. Muito interessante, portanto, e uma boa leitura.

Autor: Joe Navarro
Origem: Recebido para crítica

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