domingo, 2 de setembro de 2018

Nos Passos de Magalhães (Gonçalo Cadilhe)

Odiado por uns, idolatrado por outros, Fernão de Magalhães faz parte da lista das figuras históricas incontornáveis. E seguir os seus passos é uma longa viagem, capaz de levar até aos confins do mundo. É esse o ponto de partida deste livro que, numa mistura de narrativa histórica e percurso de viajante, segue o caminho de Magalhães, conjugando impressões modernas com a história de um tempo bastante mais distante.
Um dos elementos mais cativantes ao ler um livro de viagens é a possibilidade de conhecer lugares nunca visitados como se lá se estivesse. Neste aspecto, o livro cumpre plenamente as expectativas. Bastam, aliás, as muitas fotografias para criar uma forte primeira impressão do que será uma longa viagem, cheia de experiências notáveis. É também uma viagem bastante vasta, não se cingindo a uma única área geográfica, mas seguindo os contornos de uma volta ao mundo. Assim, os lugares visitados são muito diferentes e tanto o texto como as fotografias permitem uma percepção muito nítida dessas diferenças.
Ao associar a esta longa viagem um percurso histórico anterior, cria-se um equilíbrio interessante. De um lado, está a viagem do autor pelos lugares modernos. Do outro, o percurso de Magalhães. E o contraste entre ambos é notório, tanto nos locais mais alterados pelo tempo como nos que mantiveram muitas das suas características. Ao desenvolver a história da sua viagem em conjunto com a da viagem histórica, o autor constrói um retrato de um mundo em mudança, ao mesmo tempo que expõe as suas percepções pessoais e, claro, um percurso histórico de incontestável relevância.
Claro que, ao conjugar as duas facetas, ambas acabam por assumir uma dimensão mais sucinta. Haveria certamente mais a dizer, tanto sobre os passos de Magalhães como sobre os do próprio autor. Ainda assim, não fica a sensação de que falte nada de essencial e esta relativa brevidade tem também o agradável efeito de reforçar o impacto das coisas essenciais. Talvez não se fique a conhecer tudo, mas o que fica não se esquece facilmente.
Fica, por isso, a curiosa sensação de ter feito duas longas viagens sem sair do sítio. Viagens igualmente fascinantes ao passado e ao presente, num caminho de descobertas incessantes. Porque afinal, é isso a leitura, não é? E esta é deveras uma boa leitura.

Autor: Gonçalo Cadilhe
Origem: Recebido para crítica

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