terça-feira, 15 de outubro de 2019

A Recriação do Mundo (Luís Corredoura)

Berlim, 1943. Perante uma multidão de apoiantes fanáticos, Goebbels faz um exaltado discurso de apelo à guerra total, mas há quem não partilhe totalmente do seu fanatismo. Há movimentos nas sombras e quem queira que o poder alemão passe rapidamente para outras mãos, antes que a guerra resulte numa derrota estrondosa. E há também quem ache que a única forma de virar o rumo das coisas é obter uma arma que altere o equilíbrio das forças. É neste contexto que entra em cena José Bensaúde, judeu português, génio da física e da matemática, retirado de um campo de concentração para prestar auxílio aos cientistas nazis. A sua intervenção alterará o curso da guerra. Mas, mais uma vez, as lealdades mudam... E cada potência tem a sua poderosa rede de espiões...
Uma das primeiras coisas que importa referir sobre este livro é que dificilmente será uma leitura rápida, não porque lhe faltem razões de interesse ou porque seja maçador, mas pela vastidão de detalhes que vai apresentando ao longo da narrativa. É uma história da Segunda Guerra Mundial que segue caminhos diferentes dos da história real, mas estas divergências acontecem gradualmente, daí que a percepção das mudanças aconteça pouco a pouco, num registo bastante pausado, mas sempre interessante e, por vezes, muito surpreendente.
É também uma história que não tem um protagonista dominante, embora, dado o seu papel nos acontecimentos, se possa olhar para José Bensaúde como tal. A história não é apenas a desta personagem, mas antes a dos muitos intervenientes nesta fase divergente do conflito. E, assim, o que acontece é que o livro ramifica-se entre diferentes perspectivas, abrangendo não só os diferentes países, mas também as diferentes forças em movimento em cada um deles.
Daqui resulta um aspecto que desperta alguns sentimentos ambíguos. É que, numa história que se expande tanto para diferentes factores e personagens, acaba por surgir uma certa sensação de distância face a todos estes intervenientes. Sente-se, por vezes, a falta de uma maior proximidade, compensada, ainda assim, por alguns picos de intensidade que, dada a distância geral, acabam por ser também uma surpresa.
Leva o seu tempo a assimilar, portanto. Mas, com a vastíssima construção do seu contexto alternativo, a profusão de detalhes históricos que se mantêm por entre todas essas mudanças e a visão surpreendentemente certeira de meandros onde a guerra funciona quase como um negócio, é, ainda assim, um romance notável. E um livro que, independentemente do tempo que exija, vale a pena conhecer.

Autor: Luís Corredoura
Origem: Recebido para crítica

1 comentário:

  1. O meu sincero agradecimento pela crítica incisa e construtiva feita a este meu "projecto literário". :-)
    Luís Corredoura

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