Tyler tem dezassete anos, mas parece carregar sobre os ombros todo o peso do mundo. A mãe é toxicodependente. Os meios-irmãos mais velhos arrastaram-no para uma vida de crime. E Tyler tem de manter todas estas forças equilibradas a fim de proteger Bean, a sua irmã mais nova. Mas as coisas estão prestes a seguir por um caminho perigoso, quando Tyler, Barry e Kelly invadem uma casa e, apanhados em flagrante, acabam por fugir depois de Barry ter esfaqueado uma mulher. Pior, a vítima é a esposa de Deke Holt, o principal barão do crime da região. Sobreviveu, mas haverá um preço a pagar por aquele ataque. E eis que, de repente, Tyler dá por si preso entre a violência do seu próprio lar e a sombra que paira sobre a sua cabeça. Nunca precisou tanto de ajuda como agora. Mas poderá aceitá-la, se isso significar arrastar mais alguém para as trevas do seu mundo?
Das muitas coisas que este livro tem de impressionante, a mais memorável de todas é esta: a facilidade com que sentimos e nos preocupamos com uma personagem que tem, afinal, uma vida pouco respeitável. Tyler pode ser mais vítima do que culpado, mas anda de facto a roubar casas no momento em que a história começa. É, por isso, bastante impressionante a facilidade com que o autor faz com que nos importemos com ele, principalmente devido às suas circunstâncias, mas também devido à brilhante construção da sua personalidade.
Tyler tem uma força especial, do tipo que o torna mais vulnerável, e isto é absolutamente evidente desde o início. Não é fisicamente forte, é espancado várias vezes, principalmente pelo irmão, e não é propriamente o tipo de personagem capaz de vencer confrontos físicos. Mas tem muitas outras coisas: um coração no sítio certo, um instinto protector que o faz agir e planear e fazer coisas mesmo quando as consequências podem ser terríveis, e uma enorme e admirável consciência. Que uma personagem assim possa existir num cenário como aquele onde Tyler cresceu é em si mesmo um milagre e é isso que torna a sua história tão fascinante de acompanhar.
A verdade é que, mais do que uma história de crime e de um algo inesperado castigo, esta é uma história de vulnerabilidade. Da de Tyler, acima de tudo, mas também da vulnerabilidade global de viver num mundo em que o conceito de justiça é um conto de fadas há muito esquecido. Da família disfuncional à guerra cada vez mais intensa com os Holt, há em cada elemento uma dura lição. E o final... bem, o final é um tão delicado equilíbrio de fragilidade e força, de trevas e esperança, de... vida e morte, que é impossível não ficar com Tyler e o seu árduo caminho de redenção no pensamento bem depois de terminada a leitura.
Maravilhosamente escrito, emocionalmente devastador e com um elenco brilhante de personagens num caminho tão difícil quanto empolgante, trata-se, pois, do tipo de livro que fica no coração durante muito tempo. Uma gloriosa lembrança de que proteger os nossos pode, às vezes, significar estar-se vulnerável e exposto. E uma belíssima leitura, claro.
Título: Breakers
Autor: Doug Johnstone
Origem: Recebido para crítica
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