Quando a primeira múmia viquinge - e o que pode muito bem ser a resposta para uma lacuna da História - é encontrada na Gronelândia, o jornalista Matthew Cave é destacado para seguir o caso. Mas a história está prestes a tornar-se em algo muito mais sombrio. Primeiro, a múmia desaparece, sendo encontrado no seu lugar o corpo esventrado do polícia que ficara a guardar o local. Depois, a mesma múmia é encontrada - com os órgãos do morto dentro e a certeza de que afinal é muito posterior ao dos homens do norte. E eis que Matthew se vê sem a sua história, mas com um outro caso para acompanhar. É que tudo parece estar ligado a uma série de homicídios macabros nos anos 70. Crimes esses que serviram para esconder outros segredos igualmente sombrios.
Viciante seria uma boa palavra para começar a descrever este livro, já que, mergulhando de cabeça na intensidade que definirá todo o enredo, consegue, desde as primeiras páginas, captar a atenção para nunca mais alargar. Primeiro são as circunstâncias da descoberta, associadas à história pessoal de Matthew, que basta, por si só, para gerar empatia. E depois, à medida que a trama se desenrola e os segredos e intrigas começam a vir à tona, é praticamente impossível parar de ler antes de saber o que acontece a seguir. O resultado é um livro que se lê quase de uma assentada e que fica na memória tanto pelos aspectos mais negros como pela intensidade constante que pauta toda a narrativa.
Matthew é um protagonista carismático e basta a sua história - e a sua incapacidade de obedecer quando lhe dizem para parar - para fazer com que a leitura valha a pena. Mas há mais. Ao intercalar a sua história com a de Jakob, o autor consegue construir uma visão mais próxima - e mais empolgante - dos crimes do passado, o que, além de adensar o mistério, faz com as grandes revelações ganhem outra força. Além disso, a presença da misteriosa Tupaarnaq, também ela com o seu passado sombrio, acrescenta ainda um outro toque de perigo, além de reforçar também o impacto das revelações. Afinal, também ela está no centro de um crime.
Há ainda um outro ponto a realçar: não são só as mortes em si que têm uma vincada faceta macabra. As razões que as provocaram são igualmente perturbadoras, com questões como o abuso de menores, a influência política como forma de encobrir o inimaginável e até mesmo a facilidade com que o sistema olha para o outro lado se confrontado com os motivos certos acrescentam a uma história cuja premissa é já bastante negra uma faceta ainda mais sombria. E é aqui que o equilíbrio se torna excepcional: na forma séria como o autor aborda estas questões sem nunca perder de vista o ritmo intenso de uma história que se quer viciante.
Fica, pois, um impacto poderoso e a impressão de uma leitura que, embora de ritmo acelerado e em que há sempre algo de importante a acontecer, as grandes questões estão sempre presentes e nunca são subestimadas. Notável na construção das personagens e extraordinário no equilíbrio entre as várias facetas e momentos da história, um livro intenso, intrigante e que recomendo sem reservas.
Título: A Rapariga sem Pele
Autor: Mads Peder Nordbo
Origem: Recebido para crítica
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