"Verde que te quero verde." Provavelmente já todos ouvimos este verso algures, de forma mais ou menos descontextualizada. A obra a que pertence, essa, talvez já não seja tão conhecida como merecia. E, porém, há tanta beleza e tanto ritmo, tanta história contada em poesia neste livro que é difícil não encontrar nele aquela esquiva qualidade que fala ao coração de quem lê.
Não é propriamente fácil descrever este livro, não só porque a poesia tem um certo encanto que se torna indescritível (e que é particularmente evidente nestes poemas específicos), mas porque há um certo embalo nas palavras que é mais sentido do que pensado. Rima, ritmo, imagens e emoções surgem, ao longo destes poemas, num equilíbrio estranhamente delicado, estranhamente cativante, que se entranha na memória quase sem querer e que lá fica durante muito tempo. Porquê? Pois essa é a parte difícil de explicar.
O mesmo equilíbrio que se sente entre os vários elementos do poema é também transposto para a comparação entre o todo e as partes. Cada poema é um todo completo, com a sua mais ou menos estranha história, o seu ritmo quase melodioso e o seu estranho e delicioso contraste de sombra e luz (física e emocional). Mas há como que um fio condutor a moldar todo o conjunto, algo que também não é propriamente fácil de descrever, mas que passa a sensação de que todos estes poemas pertencem juntos: não só pela obra coesa que constituem, mas porque parecem brotar de uma mesma natureza.
E há ainda um outro aspecto muito específico deste livro que importa destacar: tratando-se de uma edição bilingue, permite ver, lado a lado, original e tradução. Ora, isto permite não só apreciar a mestria - e as dificuldades - de transpor o poema para uma língua diferente, mas também, para quem conhecer minimamente o castelhano, apreciar semelhanças e diferenças, reconhecer as nuances do ritmo em ambas as versões e descobrir que os pontos de união são, afinal, mais do que os de divergência.
Eis, pois, um todo que é o equilíbrio das partes, mas também algo mais vasto que a sua soma. Um conjunto em que cada parte é um todo completo, mas que faz com que, da leitura total, brote uma sensação de fascínio - e também de certa indescritível nostalgia - que faz com que todo o conjunto se torne memorável. Ritmo, rima, imagens e emoções entrelaçadas num equilíbrio brilhante. E não é disso, afinal, que se faz a boa poesia?
Autor: Federico García Lorca
Origem: Recebido para crítica
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