sábado, 11 de maio de 2019

Romanceiro Cigano seguido de Pranto Por Ignacio Sánchez Mejías (Federico García Lorca)

"Verde que te quero verde." Provavelmente já todos ouvimos este verso algures, de forma mais ou menos descontextualizada. A obra a que pertence, essa, talvez já não seja tão conhecida como merecia. E, porém, há tanta beleza e tanto ritmo, tanta história contada em poesia neste livro que é difícil não encontrar nele aquela esquiva qualidade que fala ao coração de quem lê.
Não é propriamente fácil descrever este livro, não só porque a poesia tem um certo encanto que se torna indescritível (e que é particularmente evidente nestes poemas específicos), mas porque há um certo embalo nas palavras que é mais sentido do que pensado. Rima, ritmo, imagens e emoções surgem, ao longo destes poemas, num equilíbrio estranhamente delicado, estranhamente cativante, que se entranha na memória quase sem querer e que lá fica durante muito tempo. Porquê? Pois essa é a parte difícil de explicar.
O mesmo equilíbrio que se sente entre os vários elementos do poema é também transposto para a comparação entre o todo e as partes. Cada poema é um todo completo, com a sua mais ou menos estranha história, o seu ritmo quase melodioso e o seu estranho e delicioso contraste de sombra e luz (física e emocional). Mas há como que um fio condutor a moldar todo o conjunto, algo que também não é propriamente fácil de descrever, mas que passa a sensação de que todos estes poemas pertencem juntos: não só pela obra coesa que constituem, mas porque parecem brotar de uma mesma natureza.
E há ainda um outro aspecto muito específico deste livro que importa destacar: tratando-se de uma edição bilingue, permite ver, lado a lado, original e tradução. Ora, isto permite não só apreciar a mestria - e as dificuldades - de transpor o poema para uma língua diferente, mas também, para quem conhecer minimamente o castelhano, apreciar semelhanças e diferenças, reconhecer as nuances do ritmo em ambas as versões e descobrir que os pontos de união são, afinal, mais do que os de divergência.
Eis, pois, um todo que é o equilíbrio das partes, mas também algo mais vasto que a sua soma. Um conjunto em que cada parte é um todo completo, mas que faz com que, da leitura total, brote uma sensação de fascínio - e também de certa indescritível nostalgia - que faz com que todo o conjunto se torne memorável. Ritmo, rima, imagens e emoções entrelaçadas num equilíbrio brilhante. E não é disso, afinal, que se faz a boa poesia?

Autor: Federico García Lorca
Origem: Recebido para crítica

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