sexta-feira, 24 de maio de 2019

O Legado de Júpiter: Revolta (Mark Millar e Frank Quitely)

Ter os super-heróis a governar até podia parecer uma ideia promissora... mas não desta forma. Brandon e Walter transformaram o país num sistema autoritário e, com alguém tão impulsivo na liderança, não tarda a que ideia de dominar o mundo ganhe forma. Mas nem toda a resistência foi vencida. Chloe, Hutch e o seu poderoso filho estão decididos a enfrentar Brandon, nem que isso signifique reunir todos os super-vilões e, com eles, formar a resistência possível. Serão suficientes, ainda assim? E, com uma parte do passado a vir à superfície, será que o aliado que procuram estará disponível para os ajudar?
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como confere ao mundo dos super-heróis uma intrigante ambiguidade moral. Afinal, foram os super-heróis a tomar o poder e a impor um regime autoritário. Mas a forma como o enredo evolui, transpondo vilões para o papel de resistentes e pondo em evidência as limitações de julgar o mundo por padrões lineares, torna tudo bastante mais intrigante. E, claro, isto acontece sem nunca perder de vista aquilo que se espera de uma história de super-heróis: acção, fatos peculiares, grandes cenas de porrada e explosões. Muitas explosões.
Não deixa, pois, também de ser surpreendente o equilíbrio entre estas facetas e o lado ambíguo da história. São abundantes as cores e os fatos garridos - afinal, se há coisa que não falta neste livro são super-heróis. Mas há também um contraste vincado no retrato das personagens mais importantes e nos traços que definem as suas expressões. Hutch e Chloe podem ser os líderes da resistência, mas são também pessoas a lutar por uma vida melhor. O pai de Hutch pode ter sido, em tempos, um super-vilão e pode ter-se isolado na sua aparente indiferença - mas bastam algumas palavras certeiras de Jason para que tudo mude. E quanto a Brandon... bem, Brandon parece corresponder em todos os seus aspectos à ideia do génio louco... só que a parte do génio não é assim tão linear.
E depois há o ritmo e a surpresa que é, numa história contida em apenas dois volumes e em que grande parte das cenas são de acção, descobrir que tudo tem precisamente a medida certa. Há aspectos que são desenvolvidos de forma mais concisa, mas tudo o que há de importante está lá, seja numa memória fugaz que surge no momento certo, seja num breve diálogo capaz de desencadear grandes coisas. E o fim... bem, pode não ser exactamente o mais surpreendente, mas é surpreendentemente certo, como se tudo encaixasse nos sítios certos para dar às personagens a melhor resolução possível.
Às vezes, não é preciso ir muito longe nem prolongar muito as coisas para se obter uma história notável. É o que acontece neste livro e no anterior, em que as coisas surgem de forma relativamente concisa, mas com as medidas certas de emoção e de humor a complementar o seu viciante ritmo de acção constante. O resultado é, como disse, notável. E uma esplêndida história para descobrir.

Autores: Mark Millar e Frank Quitely
Origem: Recebido para crítica

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