Continua a viagem em direcção a São Francisco e à melhor hipótese que têm de começar a perceber o que aconteceu, mas, mais uma vez, impõe-se um desvio. E desta vez, devido à sua impulsividade e a sua tendência para se meter em problemas, Yorick tem mesmo de ficar para trás aos cuidados de uma outra agente do Círculo Culper. Só que a agente 711 não é tão inofensiva como parece. E Yorick está prestes a começar a ver a sua impetuosidade de uma maneira completamente diferente...
Ao quatro volume da série, seria de esperar que, por esta altura, as linhas gerais do enredo já fossem bastante claras. Mas uma das qualidades desta série é a capacidade quase inesgotável de surpreender. Aqui, embora a progressão seja relativamente curta em termos de aproximação ao destino, há todo um conjunto de novos desenvolvimentos, que vão desde o passado de Yorick à sua inesperadamente vulnerável visão do futuro - que passa por uma epifania... bem, chamemos-lhe arrancada a ferros. Yorick, impulsivo e aparentemente infantil, tem afinal motivos bem mais pungentes para os seus comportamentos. E a forma como esta verdade vem à tona forma um episódio todo ele bastante memorável.
Outro aspecto a destacar deste volume é que, embora as grandes respostas para o problema global (afinal, o que é que causou a praga?) continuem bem longe, já para os diferentes elementos que o compõem há bastantes desenvolvimentos. Do volume anterior, vem uma esperança que se concretiza. Do Círculo Culper, surge o vislumbre de uma maior complexidade. E, à medida que os protagonistas avançam na sua viagem, surge também uma visão mais ampla das consequências da praga a um nível mais global.
Mas importa, ainda e sempre, realçar a faceta mais pessoal, que neste livro se torna particularmente vincada, com o passado de Yorick e o seu presente estado mental a ocuparem o primeiro plano. Há, aliás, algo de particularmente notável neste aspecto: é que além do inesperado da situação, já que nada na história até aqui implicava uma possível manifestação do "espírito" de Sade, a própria arte parece ajustar-se a este novo elemento, com tons mais escuros e um ambiente vagamente cruel e vagamente sedutor, mas acima de tudo profundamente sombrio, a abrir as portas da mente do protagonista.
Sempre surpreendente e com alguns momentos absolutamente notáveis, trata-se, pois, de um belíssimo desenvolvimento para uma história cujas expectativas são já sempre muito elevadas. Intenso, viciante e, como sempre, cheio de surpresas, mais um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: Y - O Último Homem: A Senha
Autores: Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
Origem: Aquisição pessoal
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