A guerra é uma velha inimiga da nação Apache, e ainda mais agora que os Olhos Brancos, determinados a tomar posse da terra e de todas as suas riquezas, querem confiná-los a reservas. Mas, embora sejam mais que os gafanhotos, a confiança dos soldados americanos não chega. Não contra Cochise, um chefe destemido e sábio, que tem ao seu lado guerreiros fortes, um dos quais deixaria a sua alcunha gravada na história: Gerónimo. O que começa por ser um massacre transforma-se numa guerra sem tréguas. E, muitas mortes depois, a esperança torna-se cada vez mais ténue: será possível alcançar a paz? A que preço? E por quanto tempo?
Parte do que torna um livro de banda desenhada memorável será sempre e necessariamente o equilíbrio entre a arte e a história, entre diálogos e movimento, por assim dizer. Neste livro específico, este equilíbrio atinge um novo auge. Os diálogos, sucintos, cingindo-se ao essencial, mas sempre com algo de memorável a acrescentar, aliam-se a uma arte tão avassaladoramente expressiva que se torna difícil desviar o olhar, seja no retrato das personagens, nas sequências de guerra, cheias de movimento e morte, ou até na estranha desolação das paisagens de um mundo perdido - pelo menos para os protagonistas.
Isto torna-se especialmente notável se tivermos em conta que se trata de um livro a preto e branco. Às vezes, a cor ajuda a dar vida à história, não é? Bem, neste caso, diga-se que a cor não faz falta nenhuma. Há todo um equilíbrio de tons, mais esbatidos para as memórias, mais intensos para os momentos mais próximos, sempre precisos no traçado de rostos, expressões e movimentos. E isto, além do previsível facto de tornar o livro lindíssimo, tem também o condão de tornar a leitura ainda mais memorável: ver o sofrimento nos rostos das personagens torna a sua dor mais próxima. Ver a firmeza torna mais admirável a sua coragem.
E, claro, há a história em si e toda a visão que implica. Afinal, todos nós vimos uns quantos filmes de índios - aqueles em que os índios são sempre os vilões que é preciso perseguir e abater. Pois bem, este livro inverte por completo essa perspectiva, traçando o percurso de um povo perseguido até aos limites e, como tal, forçado a quebrar também limites para sobreviver. A história de Cochise e do seu povo é memorável em si mesma e também pelo que representa: a visão de que a tantas vezes branqueada história do triunfo da civilização foi tudo... menos civilizada.
Belíssimo, intenso e marcante em todas as suas facetas, cativa desde o primeiro contacto e não deixa de surpreender até ao fim. Basta, pois, um olhar para tornar este livro memorável - e a leitura só reforça esta impressão.
Título: Indeh
Autores: Ethan Hawke e Greg Ruth
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário