Regressar ao trabalho não bastou para dispersar os fantasmas de Henning Juul. Continua à procura de uma explicação e de um responsável para o incêndio que causou a morte do filho e o deixou com marcas para a vida. E parece haver finalmente a possibilidade de uma resposta. Tore Pulli, condenado por homicídio e a aguardar recurso, contactou-o com uma proposta irrecusável: se Henning provar a sua inocência, Tore dir-lhe-á o que sabe sobre o que realmente aconteceu. Relutante e desconfiado, Henning vê-se, ainda assim, a investigar o caso, mas, poucas semanas depois, Pulli é morto na prisão. A sua única oportunidade parece ter-se evaporado - mas deixou para trás uma história que vale a pena seguir.
Muito à semelhança do que acontece no anterior Em Chamas, este é um livro que cativa não só pelo caso propriamente dito, e pelas suas cada vez mais vastas ramificações, mas principalmente pelo protagonista e pela situação delicada em que se encontra. Há, aliás, um elemento novo, já que à busca de Henning por respostas para o incêndio (e consequente envolvimento emocional em tudo o que diz respeito a esta questão) junta-se uma segunda história igualmente empática: a de Thorleif Brenden e dos seus esforços por proteger a família.
Ambos são, à sua maneira, personagens vulneráveis, pelo que o contraste entre os dois percursos (embora o de Brenden se cinja a este livro, enquanto o de Henning está longe de ter terminado) confere ao enredo um impacto emocional particularmente forte. E, além de tornar a história mais viciante com esta maior proximidade relativamente a dois dos principais intervenientes, esta empatia gerada confere-lhe também um ambiente mais sombrio. É como se a intriga e à morte estivessem à espreita ao virar de cada esquina. O que, num livro como este, em que tudo começa com uma morte e as ramificações se vão prolongando numa intriga cada vez mais complexa, pode não ser uma surpresa, mas adquire contornos devastadores face à força emocional dos grandes momentos.
E há ainda o ritmo da narrativa, com a alternância entre diferentes perspectivas, a sucessão de grandes revelações, a corrida contra o tempo e o equilíbrio entre a aura sombria que paira sobre toda a história e os deliciosos momentos de humor a tornar a leitura absurdamente viciante. Henning gera empatia e preocupação. Os mistérios geram curiosidade e também uma certa vontade de ver os criminosos pagar pelo que fizeram. E o resultado é uma leitura impossível de largar tal é a intensidade da história e das muitas surpresas nela contidas.
No fim, a história de Henning não termina e são muitas as possibilidades para os volumes que se seguirão. Mas a sensação que fica é a de uma conclusão adequada, que põe termo a uma parte do percurso - e, muito especificamente, à questão da possível inocência de Tore Pulli - ao mesmo tempo que gera grandes expectativas para o futuro. Intenso, viciante e cheio de surpresas, um livro irresistível.
Título: Dor Fantasma
Autor: Thomas Enger
Origem: Recebido para crítica
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