Devon Ravenel acaba de herdar um título, e com ele uma propriedade tão extensa quanto arruinada. E, embora inicialmente os seus planos sejam livrar-se da sua herança e continuar a levar a mesma vida boémia que até ali, está longe de imaginar quão profundamente a sua vida vai mudar. Quando ele e a viúva do seu falecido antecessor se encontram pela primeira vez, tudo indica que estão destinados a ser inimigos. Mas há algo em Kathleen que o fascina e, quase sem querer, a sua dedicação às irmãs de Theo, bem como a determinação em zelar pelas muitas pessoas que dependem da propriedade, começa a cativar Devon. E, à medida que a relação começa a aprofundar-se, há também algo de mais profundo a ganhar forma: uma atracção que começa por ser física, mas que ameaça estender-se até ao coração.
A passagem de inimigos a amantes não é algo de totalmente novo neste género de romance. E, ainda assim, uma das primeiras coisas a destacar neste livro é a forma como a autora consegue conferir a esta premissa uma identidade única e intransmissível. Talvez porque cada personagem tem um carisma muito seu, ou talvez porque a história gira à volta do que muito mais do que apenas o romance, o que faz com que o amor aconteça de forma gradual, o que é certo é que tudo neste livro - estrutura, enredo, personagens - parece desenvolver-se de forma notavelmente eficaz.
Claro que a alma está nas personagens, e isto aplica-se tanto à sua natureza como à sua evolução. O infame temperamento Ravenel faz de Devon uma figura um tanto ou quanto implacável e dominadora, mas o seu percurso sobressai, acima de tudo, por outros aspectos: a descoberta da responsabilidade, a manifestação de um heroísmo tão inesperado quanto natural na força do momento e também um sentido de humor delicioso, atrás do qual se escondem emoções mais fortes do que o próprio Devon gostaria de admitir. E há algo de semelhante a acontecer para muitas das principais personagens: West, de puro tratante a trabalhador dedicado; Kathleen, que esconde sob a imagem da viúva agarrada às convenções uma faceta de mulher determinada; até Helen, com a sua tímida quietude a esconder um grande coração. Todas as personagens têm algo de notável e todas proporcionam grandes momentos, sejam eles de humor ou de emoção.
Há também algo que sobressai na história em si: o equilíbrio entre múltiplas facetas. O foco central está, naturalmente, no romance entre Kathleen e Devon, mas há muito mais para além disso. Há a recuperação da propriedade, o catastrófico acidente na base de alguns dos grandes momentos do livro, a história secundária de Helen e Winterborne (que prepara já caminho para um volume seguinte) e até mesmo uma análise de um mundo que se move mais por estatutos e aparências do que pelo verdadeiro valor. Tudo isto torna o enredo mais amplo, as personagens mais complexas e confere ao romance um crescimento gradual que torna tudo também mais autêntico.
Equilibrado, intenso e repleto de momentos deliciosos: assim se poderia descrever, em suma, esta história de atracção e de amor, em que dois protagonistas que inicialmente parecem ter muito pouco em comum se tornam na dupla perfeita. Divertido, emotivo e cheio de surpresas, um livro implacavelmente delicioso. E que recomendo, naturalmente.
Título: Implacável
Autora: Lisa Kleypas
Origem: Recebido para crítica
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