De sombras, de sangue, de fome e até de uma incerta fé: de tudo isto são feitos os poemas deste livro. Poemas onde a brevidade se une a uma construção de imagens tão precisa quanto perturbadora para dar forma a uma visão que é mundo e crença e sentimento sempre de uma forma muito interior. Em poucos versos, parece conter um quadro inteiro. Um quadro tão sombrio quanto eficaz na sua (aparente) simplicidade.
Abrangendo vários anos da poesia do autor, uma das coisas que importa começar por destacar é que, ao longo da leitura, sente-se não só uma viagem pessoal, mas acima de tudo uma evolução estrutural. Aos muito breves e muito sombrios poemas das primeiras páginas sucede-se como que um crescendo que, sem perder de vista os seus matizes mais obscuros, se vai tornando mais descritivo, um pouco mais distante. Início e fim são quase vozes diferentes, ainda que unidas pelo mesmo fio condutor.
Outro aspecto que cedo se torna evidente, e talvez também devido a esta evolução gradual, é a coesão do todo. Cada poema é um todo completo e, se fizermos o exercício de ler o primeiro e o último, as relações não serão lá muito evidentes. Mas, lido de forma sequencial, há neste livro como que uma união, quase como uma via sacra interior que se aproxima de um estranho clímax. Da sombra da introspecção à fome da própria terra, há espaço para imagens pessoais e imagens do mundo. E este contraste entre as duas facetas confere ao todo um sentimento de pertença.
São maioritariamente poemas muito breves, daí que esta sensação de vastidão acabe por resultar também especialmente surpreendente. E, embora não deixe de ficar também a pairar como que uma curiosidade em ver mais a fundo este mundo, o facto de cingir o traçado da imagem a poucos versos torna mais memoráveis as grandes frases - e mais peculiar o estilo global.
Finda a leitura, fica a sensação de uma estranha viagem ao interior, a um interior que tanto consegue roçar os contornos da devoção como a simples aridez da paisagem. Um interior aparentemente simples, mas de complexidade insuspeita, e em que cada poema é um passo rumo a um destino maior. Difícil de descrever, sim, mas bastante memorável.
Abrangendo vários anos da poesia do autor, uma das coisas que importa começar por destacar é que, ao longo da leitura, sente-se não só uma viagem pessoal, mas acima de tudo uma evolução estrutural. Aos muito breves e muito sombrios poemas das primeiras páginas sucede-se como que um crescendo que, sem perder de vista os seus matizes mais obscuros, se vai tornando mais descritivo, um pouco mais distante. Início e fim são quase vozes diferentes, ainda que unidas pelo mesmo fio condutor.
Outro aspecto que cedo se torna evidente, e talvez também devido a esta evolução gradual, é a coesão do todo. Cada poema é um todo completo e, se fizermos o exercício de ler o primeiro e o último, as relações não serão lá muito evidentes. Mas, lido de forma sequencial, há neste livro como que uma união, quase como uma via sacra interior que se aproxima de um estranho clímax. Da sombra da introspecção à fome da própria terra, há espaço para imagens pessoais e imagens do mundo. E este contraste entre as duas facetas confere ao todo um sentimento de pertença.
São maioritariamente poemas muito breves, daí que esta sensação de vastidão acabe por resultar também especialmente surpreendente. E, embora não deixe de ficar também a pairar como que uma curiosidade em ver mais a fundo este mundo, o facto de cingir o traçado da imagem a poucos versos torna mais memoráveis as grandes frases - e mais peculiar o estilo global.
Finda a leitura, fica a sensação de uma estranha viagem ao interior, a um interior que tanto consegue roçar os contornos da devoção como a simples aridez da paisagem. Um interior aparentemente simples, mas de complexidade insuspeita, e em que cada poema é um passo rumo a um destino maior. Difícil de descrever, sim, mas bastante memorável.
Título: Uma Pedra Sobre a Boca
Autor: João Moita
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário