TIM-21 pensava ter encontrado um refúgio temporário, mas, mais uma vez, as coisas acabaram por seguir um rumo inesperado. Agora, tudo pende num equilíbrio delicado. E é neste ponto de viragem que o tempo pára e todos os pensamentos se voltam para o passado. Afinal, pode haver relações desconhecidas que as personagens desconhecem e o passado que os une talvez seja a chave para o que virá depois. TIM-22, Telsa, Bandit, Andy, Effie e até mesmo o Broca: todos têm uma história antes do momento em que os seus caminhos voltaram a cruzar-se. E, nessa história, estão as pistas para o futuro.
Poder-se-á, talvez, dizer que este terceiro livro funciona, em certa medida, como um volume de transição: afinal, em termos da linha principal da história, as coisas não evoluem muito. Ainda assim, uma das primeiras coisas a sobressair é que, pese embora esse facto, há muito de novo - e muito de marcante - a descobrir neste livro. Afinal, o passado faz parte do que nos define. E o passado destas personagens é, em muitos aspectos, assombroso.
Sendo um olhar aos diferentes passados, há dois elementos que se destacam. O primeiro é o conjunto de revelações pertinentes - e uma ou outra reviravolta - que irão seguramente influenciar os acontecimentos futuros. O segundo, e talvez o mais importante, é a intensa carga emocional associada a todas estas memórias. Da antiga vida de TIM-22 ao passado comum de Andy e Effie, passando pelas dilacerantes cenas de Bandit sozinho e à procura na colónia mineira e pela posição de Broca ante a forma como foi tratado pelos humanos (ou por um humano em particular), há toda uma vastidão de momentos memoráveis, capazes de despertar emoções fortes e de potenciar ainda mais a já forte empatia que estas personagens despertam. Estendendo-a, aliás, a personagens que anteriormente não pareciam merecê-la.
E eis que, mais uma vez, entra a questão da expressividade e a forma como as personagens são retratadas. As expressões das personagens ao longo dos acontecimentos são uma porta aberta para todas estas emoções. E, além disso, há ainda uma outra faceta: Bandit e Broca são robôs sem aspecto humano e, ainda assim, esta expressividade estende-se também a eles. A parte dedicada a Bandit é, aliás, particularmente marcante, porque, sendo embora um robô, é praticamente impossível não o ver como um cão como qualquer outro - sozinho, perdido, à procura de afecto.
Pode parecer uma pausa na história principal, mas tudo o que contém é relevante. E, com a sua vastíssima força emotiva e os muitos desenvolvimentos interessantes, tudo aquilo que acrescenta à história é bom, tudo é belo e tudo fica na memória. Acabando, por isso, por surpreender, ao mesmo tempo que corresponde e supera as expectativas. Muito bom.
Autores: Jeff Lemire e Dustin Nguyen
Origem: Recebido para crítica
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