quarta-feira, 22 de maio de 2019

Tudo o que Sei Sobre o Amor (Dolly Alderton)

Ao longo dos seus trinta anos, Dolly Alderton passou por um pouco de tudo, desde as primeiras experiências de conhecer alguém via MSN aos tempos das festas loucas, onde álcool, droga e todo o tipo de excessos eram a certeza de se ser alguém interessante, passando pelo crescimento em comum com as amigas e pelos pontos de divergência entre os respectivos caminhos. Ao longo do trajecto, Dolly descobriu-se a si mesma, aprendeu umas quantas lições difíceis e encontrou uma imagem de si mesma muito diferente da rapariga das festas dos seus vinte anos. É dessas experiências - dessas memórias - que este livro é feito.
Centrado essencialmente num percurso de descoberta pessoal, ainda que com vários pontos onde é fácil sentir uma certa proximidade, este não é o tipo de livro que gere empatia imediata - a não ser que se tenha uma história semelhante à da autora. Uma vez que as memórias seguem a linha da sua própria vida, a parte inicial dedica-se, sobretudo, aos abundantes excessos, bem como a algumas obsessões pouco saudáveis, o que, de uma perspectiva mais adulta, pode parecer-se perigosamente com uma glorificação desse tipo de comportamento. Ainda assim, com o avançar das memórias e o crescimento da autora, torna-se claro que não é disso que se trata. Os excessos e os comportamentos destrutivos fizeram parte do seu próprio percurso - e das lições que se seguiram. Por isso, no fim a imagem que fica é, acima de tudo, essa: a de um crescimento.
É também quando as histórias ganham um cariz mais maduro que as grandes lições começam a ganhar forma. O crescimento da amizade com Farly, a descoberta de uma vida mais serena, até mesmo a dura lição de uma perda que, não sendo própria, se vive como pessoal - em tudo isso há algo de memorável, não só pelos acontecimentos em si, mas principalmente pelas lições que contêm. Além disso, casos como o de Florence e do casamento de Farly lembram também que a vida nem sempre é como planeamos - e que superar e adaptar são também duras, mas essenciais lições de vida.
E, claro, importa ainda falar um pouco sobre a escrita e como o tom descontraído - quase excessivamente descontraído - que tão bem se ajusta ao relato dos excessos iniciais amadurece também à medida que as histórias se tornam mais profundas. O sentido de humor, uma das principais qualidades deste livro, nunca se desvanece, mas parece encontrar um equilíbrio mais eficaz, à semelhança do que acontece à protagonista de todas estas memórias.
Não é um livro que prenda desde o início, mas é, ainda assim, um livro cheio de lições memoráveis. E, tal como os percalços da juventude de Dolly nos lembram momentos de menor responsabilidade, também o seu crescimento - a nível de amor e não só - lembra a importância de crescer para uma vida onde nada é previsível. Levam o seu tempo a desvendar, é verdade, mas as lições estão lá. E é isso, afinal, o que mais importa.

Autora: Dolly Alderton
Origem: Recebido para crítica

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