Na vida, basta um momento e tudo muda. O que costumava ser uma voz corajosa e sem barreiras transforma-se num silêncio tão profundo como as águas mais insondáveis. E o tempo passa e, ainda que a vida continue, cada momento é passado no limiar do afogamento. É assim para Maggie May, que, quando era criança, assistiu a um crime e, em resultado, perdeu a voz e a capacidade de sair de casa. A sua única âncora é Brooks, o amigo do irmão que se tornou também o seu melhor amigo. Agora, porém, ambos cresceram e a amizade ameaça tornar-se em algo mais. Mas Maggie não fala nem sai de casa e Brooks tem um futuro de sucessos musicais à sua espera. Como poderão continuar juntos, se fazê-lo significa puxar o outro para baixo? E se os papéis se inverterem, será Maggie capaz de fazer o mesmo que Brooks fez ao longo de vinte longos anos?
História de amor jovem e de crescimento para lá das dificuldades, uma das primeiras coisas a marcar neste livro é o facto de se estender muito para lá da história de amor entre os protagonistas. Sim, há amor, um amor sem reservas, e ver este amor crescer por entre tribulações é algo de mágico. Mas há também algo muito mais profundo do que a descoberta de um primeiro amor. Brooks e Maggie descobrem-se a si mesmos, nos bons momentos e nos maus, no trauma e na superação. E, ao fazê-lo, tornam-se força e exemplo para os que os rodeiam e que, às vezes, também não sabem muito bem como lidar com eles.
A história começa com os protagonistas ainda muito jovens e abrange um longo período de tempo. Ainda assim, consegue um equilíbrio surpreendentemente eficaz: há partes das vidas das personagens que são percorridas de forma mais sucinta, mas nunca fica a impressão de uma história demasiado apressada. Muito pelo contrário. Esta passagem do tempo permite realçar o melhor do seu crescimento: Maggie, parada no tempo do seu trauma, descobre o amor, aprende a perdoar, torna-se ela mesma salvadora e acaba por ter de confrontar aquilo que a moldou; Brooks, que podia ter ficado de fora a assistir, torna-se amigo, amado, confidente... e depois aprende com Maggie a lidar com as suas próprias sombras. E o amor entre ambos torna-se também uma voz - uma voz capaz de abalar todos aqueles que acompanharam o percurso de ambos.
Tendo tudo isto em conta, não é propriamente uma surpresa que a grande marca deste livro seja a emoção. Há sentimentos fortes à espreita ao virar de cada página, momentos comoventes, rasgos de pura emotividade. É possível sofrer com os protagonistas, sentir com eles, partilhar do seu crescimento. E, claro, o resultado é que se torna impossível largar a leitura, tal é a força com que estamos a torcer para que tudo acabe bem. Além disso, a estes rasgos de emoção acrescenta-se ainda um muito agradável sentido de humor, que, além de acrescentar leveza nos momentos em que esta é mais necessária, realça uma característica particularmente marcante das personagens: a capacidade de rir por entre as sombras.
Amor, crescimento e superação: são estes, em suma, os ingredientes que tornam esta leitura tão marcante. O amor paciente que tudo supera, o crescimento da passagem à idade adulta e a superação das sombras que, durante muito tempo, impuseram a sua autoridade. O resultado é um livro cativante, comovente e repleto de momentos memoráveis. Muito bom, em suma.
Título: O Silêncio das Águas
Autora: Brittainy C. Cherry
Origem: Recebido para crítica
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