Com noventa anos de existência e uma vida finalmente tranquila após grandes dificuldades, doña Maru dedica parte do seu tempo a levar doces às crianças do orfanato. Montada na sua fiel bicicleta azul, todos os dias percorre uma longa distância, mas nada que se compare ao caminho que tem pela frente. Ao saber da morte do filho que há muito lhe fugiu, e da existência de um neto que nunca conheceu, doña Maru decide-se a percorrer a longa distância até Veracruz a fim de o encontrar. E esse parece ser o caminho que o destino lhe traçou, como confirmam os múltiplos "acasos" que surgem para lhe indicar o caminho.
Relativamente breve e abrangendo uma viagem bastante longa, o aspecto mais surpreendente deste livro é o registo inesperadamente introspectivo. A história é a da viagem da protagonista em busca do neto, mas cada capítulo abrange também extensas reflexões sobre a vida, o destino e as diferentes formas de encarar aquilo que de bom e mau nos acontece. Poder-se-ia então dizer que é uma espécie de livro de auto-ajuda em forma de romance.
A conjugação destas duas facetas tem algumas consequências. Primeiro, o livro torna-se bastante pausado, já que a análise interior ocupa tanto espaço como a história propriamente dita. Depois, a história em si acaba por ser mais sucinta, ficando uma certa curiosidade insatisfeita acerca de certos aspectos, principalmente no que diz respeito às histórias das personagens com quem doña Maru se cruza. E terceiro, esta visão relativamente breve e ao mesmo tempo introspectiva, acaba por atingir um certo equilíbrio, pois, apesar das perguntas sem resposta, a sensação que fica é a de que o essencial está lá.
Surpreende, pois, também o facto da história não deixar de cativar, mesmo que as introspecções tornem o ritmo mais pausado, mesmo que não se acredite nessa coisa do destino. Porquê? Porque há em tudo isto uma certa inocência, uma certa emotividade, que faz com que o que fica na memória uma vez terminada a leitura sejam as coisas positivas da história: uma missão cumprida, vários caminhos de descoberta pessoal e um amor e perdão tão incondicionais como indispensáveis.
Trata-se, pois, de um livro que conjuga as melhores ideias dos livros de auto-ajuda com uma história que, sem grandes elaborações, nos faz lembrar o essencial da vida. Breve, simples e muito enternecedor, uma leitura cativante e cheia de pequenas surpresas.
Autor: Gabri Ródenas
Origem: Recebido para crítica
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