Nem sempre acordar num hotel de luxo significa que a vida corre bem. No caso de Alvina Knightly, é precisamente o contrário. O seu companheiro de fuga e cúmplice de uns quantos crimes acaba de fugir com o dinheiro que roubaram, deixando-a apenas com umas quantas jóias e um desafio: caso o encontre, poderão trabalhar juntos. Alvie, porém, tem outras intenções. Quer encontrar Nino, de facto, mas para acabar com ele. Só que não é assim tão fácil. Nino desapareceu e a única pista de Alvie - uma app de localização de telemóveis - rapidamente se revela pouco fiável. E, embora os acasos pareçam estar a seu favor, Alvie pode muito bem ser a pior assassina de todos os tempos.
É na inversão de tudo o que se espera de uma história deste género que se encontra o aspecto mais cativante deste livro. Alvie é tudo menos uma boa pessoa, dificilmente desperta empatia (salvo por certos laivos do seu passado) e não tem propriamente grandes escrúpulos no que toca a conseguir o que quer. Já o caminho, bem, com uma protagonista assim, é fácil de prever que haverá uma boa variedade de crimes ao longo do percurso. E porém, ao ser precisamente o contrário do que se espera, há nesta aventura algo de estranhamente cativante - mesmo que isso signifique não saber se estamos a torcer por Alvie ou contra ela.
Além da muito vincada falta de escrúpulos, Alvie tem também uma considerável falta de jeito, o que, além de peculiar, torna a história bastante divertida. Não, não é propriamente fácil gostar da protagonista, mas é impossível não rir de algumas das suas peripécias. Além disso, uma coisa é certa nesta história: praticamente nada corre conforme planeado. E se o caminho de Alvie a levará, certamente, a cruzar-se com Nino, a forma e as consequências estão longe de ser as mais previsíveis.
Claro que, sendo o segundo volume de uma trilogia, deixa umas quantas questões em aberto sobre o que futuro reserva para a protagonista. Mas funciona, ainda assim, como uma fase completa: a situação com Nino fica resolvido e, além disso, certos problemas vindos de trás encontram como que uma resolução provisória. Tudo fica em aberto para o futuro de Alvie, mas esta parte do percurso terminou. E isto faz com que à curiosidade acerca do que virá depois se junte a sensação de um fecho adequado.
Peculiar, moralmente ambíguo (na melhor das hipóteses), mas estranhamente cativante e divertido, trata-se, pois, daquele livro invulgar em que, mesmo não se gostando particularmente da protagonista, a história se torna quase viciante. Talvez seja precisamente por ser peculiar e ambígua. Ou então porque há um futuro para Alvie que promete ainda maiores aventuras. Seja como for, o certo é que as páginas voam... e também isso é sinal de uma boa leitura.
Título: Má
Autora: Chloé Esposito
Origem: Recebido para crítica
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