Quando duas jovens são dadas como desaparecidas na sequência de uma viagem à Tailândia, inicialmente só os pais parecem estar realmente preocupados. Afinal, os jovens ficam incontactáveis, às vezes, quando partem à aventura. Mas não tarda a que a verdadeira gravidade da situação venha à tona. Alex e Rosie morreram na Tailândia, aparentemente devido a um incêndio acidental no local onde estavam hospedadas. Só que também essa teoria tem falhas. Os pais insistem numa investigação como deve ser, o que leva à intervenção da polícia inglesa. E eis que a situação se complica ainda mais. Kate Waters, jornalista, que viajara para a Tailândia para seguir a história, vê-se confrontada com pistas de que o seu filho, que não vê há anos, pode ter estado no local do crime. Inicialmente visto como herói, Jake Waters rapidamente se torna suspeito. E mais uma vez o enredo adensa-se, com novas respostas a trazer consigo novas e perturbadoras perguntas...
Alternando entre os pontos de vista de três personagens fulcrais, esta é uma história que facilmente se torna viciante. Por várias razões: pela intensidade do enredo, pela fluidez e envolvência da escrita e principalmente para construção de personagens complexas em torno de um mistério igualmente complexo. Estes três elementos, e o equilíbrio praticamente perfeito entre eles, fazem com que este livro, embora relativamente extenso, seja praticamente impossível de largar.
Não há quase nada nesta história que seja previsível. Para cada novo desenvolvimento que parece apontar num sentido surge uma nova reviravolta que faz com que a situação se inverta. O maior exemplo disso é a situação de Jake Waters, que assume alternadamente (e dependendo dos olhos que o vêem) os papéis de herói, de potencial assassino, de amigo de confiança e de rival a eliminar. Nada segue pelo caminho mais fácil. E esta sucessão de reviravoltas, de obstáculos, de dificuldades tem o condão de, além de tornar a história ainda mais viciante, tornar também mais complexas as personagens que a povoam.
Há muitas surpresas ao longo da história principal. Mas há ainda outros aspectos a sobressair: a história da relação de Kate com o filho põe-na perante escolhas inimagináveis, além de realçar as dificuldades de equilibrar uma vida familiar estável com o seu trabalho errático de jornalista. A situação pessoal de Sparkes confronta-o com a iminência da perda, gerando alguns dos momentos mais emotivos da história e acrescentando humanidade a uma personagem cuja profissão lhe exige um certo distanciamento. E quanto a Lesley... bem, Lesley é o retrato perfeito do maior medo de uma mãe e da inevitável continuidade após a concretização desse medo.
Tudo converge, então, num enredo surpreendentemente complexo, mas tão intenso e viciante que é impossível parar de ler. E tudo converge também para um final à altura do percurso: surpreendente, perturbador e equilibrando todas as escolhas difíceis resultantes do longo caminho. O resultado é uma viagem intensa, uma história a todos os níveis memorável e um livro que fica no pensamento bem depois de terminada a leitura. Muito, muito bom.
Título: O Suspeito
Autora: Fiona Barton
Origem: Recebido para crítica
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