Após uma série de acontecimentos dramáticos que resultaram em várias mortes incluindo a de um deus, os deuses do panteão vêem-se obrigados a voltar-se para o interior numa tentativa de analisar o que se passa. Mas a verdade é que nem todos estão na mesma posição. Enquanto uns compram facilmente a história do culpado mais fácil, outros há que estão por dentro do segredo. E, entre as suas origens e a posição que parecem assumir, é neste terceiro volume que as circunstâncias dos diferentes deuses começam a tornar-se mais claras. Pois uma coisa é certa: a situação não está a melhorar. E a guerra anunciada pode muito bem vir de onde eles menos esperam. Pelo menos alguns deles...
Dividido entre os passos dos diferentes deuses e voltando-se ora para o passado, ora para um futuro relativamente próximo dos acontecimentos do volume anterior, este é um livro que funciona em certa medida como um volume de transição, revelando posições como que num tabuleiro de xadrez ao mesmo tempo que permite alguns vislumbres do que move as personagens e do que as moldou no que são. Mas, ao contrário do que acontece com muitas transições, este não é um livro mais lento nem mais aborrecido. Muito pelo contrário: a maior proximidade das personagens torna-as mais complexas e intrigantes. E não faltam, embora a linha geral da história pareça não avançar muito, momentos dramáticos e de acção a acrescentar novas perspectivas, prometendo ao mesmo tempo grandes desenvolvimentos para o que se seguirá.
Há outro aspecto a sobressair no livro e que transpõe o contraste entre as histórias e personalidades dos diferentes deuses para a arte que os representa. É que este livro conta com a participação de diferentes artistas convidados, cada um com um estilo diferente e capaz de acrescentar coisas novas às diferentes personagens. O contraste é amplo e evidente, indo de cenários e trajes mais elaborados no número dedicado a Amaterasu a uma simplicidade inesperadamente eficaz na história de Sakhmet. Ora, além de introduzir diversidade, este contraste tem ainda um outro efeito curioso: é que parece ajustar-se na perfeição à natureza e temperamento das personagens correspondentes. Sakhmet é talvez a dona da mente mais simples de todos os deuses - e isso reflecte-se na forma como a sua parte da história está representada. Amaterasu é uma deusa solar, pelo que faz todo o sentido que as suas cenas sejam cheias de luz, em contraste com os tons bem mais sombrios da Morrigan. E isto aplica-se, de uma forma ou de outra, a todos os intervenientes.
E quanto à história em si, importa ainda referir que o facto de não haver um grande avanço em termos de história global não quer dizer que não haja desenvolvimentos importantes. O passado permite uma melhor compreensão de certos mistérios. E o presente, esse... bem, além dos muitos momentos notáveis, culmina num elemento de suspense que deixa uma vontade praticamente irresistível de ler o próximo volume o mais cedo possível.
Beleza, intriga, emoção e mistério nas medidas certas fazem de enredo, mundo e personagens uma aventura irresistível. E uma vastidão de pequenas coisas faz com que cada volume seja sempre mais fascinante que o anterior. Deuses feitos celebridades numa intriga de dimensões cada vez mais vastas: é esta a natureza da história que, neste terceiro volume, se expande ainda um pouco mais. Uma história brilhante e memorável. Genial, como sempre.
Autores: Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matt Wilson e Clayton Cowles
Origem: Recebido para crítica
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