Grace Elliot acaba de descobrir a bomba que fará finalmente dela uma jornalista a sério: uma actriz de filmes pornográficos está disposta a falar sobre o relacionamento que teve com o polémico candidato a presidente dos Estados Unidos. Mas ninguém quer publicar essa história e, como prémio de consolação, é oferecida a Grace uma viagem com a ex-mulher do candidato, Elena Craig, pelos lugares da sua infância. É aí que as incongruências começam a tornar-se evidentes: Elena Craig não é apenas quem diz ser. Mas quando Grace começa a investigar a fundo, descobre-se na mira de inimigos poderosos, capazes de tudo para manter os seus segredos a salvo.
Provavelmente o aspecto mais memorável deste livro é que, sendo embora uma obra de ficção, tem muitas e evidentes semelhanças com certas figuras da realidade actual. É difícil não ver em Anthony Craig as características de um certo presidente e toda a história de Elena faz lembrar as muitas notícias sobre ligações à Rússia. Fica, pois, no ar uma questão intrigante: será que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência?
Mas as qualidades não se resumem a esta intrigante ambiguidade. Toda a história parece ser uma corrida contra o tempo (ou contra a morte) e a forma como o autor a constrói, alternando entre a procura da verdade por parte de Grace e essa mesma verdade vista pelos olhos de Elena, faz com que a abrangência da conspiração se torne particularmente impressionante. Além disso, este equilíbrio entre as duas partes consegue também transmitir os sentimentos mais fortes: a impotência de Grace face ao seu isolamento na busca da verdade é a mesma impotência de Elena, arrastada para uma prisão dourada da qual não há uma verdadeira saída.
E eis que o enredo avança, de revelação em revelação, desvendando verdades desconfortáveis e colocando a protagonista em situações cada vez mais perigosa. Gera-se, assim, a expectativa de um final poderoso, de uma grande revelação dramática, de uma verdade capaz de fazer o mundo desabar. E eis que surge nova ambiguidade: o final é dramático, de facto, mas não é aquele para onde a história parecia encaminhar-se. E se, por um lado, este final não corresponde ao esperado, por outro é especialmente adequado se considerarmos uma vez mais as semelhanças com a realidade. Na vida, nem sempre os bons ganham e os vilões são punidos. Tudo é bastante mais complexo. E, assim sendo, faz sentido que tudo termine com o equilíbrio possível. E com uma promessa também.
Observadas as suas múltiplas facetas, o que fica deste livro é a imagem de uma história intensa e cativante, escrita num estilo directo e aparentemente simples, mas que contém uma análise surpreendentemente eficaz das intrigas subjacentes ao mundo dos poderosos. Intrigante e surpreendente, um livro para devorar de uma assentada... e, talvez, para ver o mundo com outros olhos.
Título: Nome de Código: Águia-Real
Autor: Anónimo
Origem: Recebido para crítica
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