Alicia Berenson tinha uma vida perfeita: uma belíssima casa, um marido afectuoso e um percurso artístico de sucesso. Até ao dia em que, aparentemente sem que nada o fizesse prever, matou o marido com cinco tiros. E calou-se. Nem nos dias seguintes, nem no julgamento, nem depois do internamento psiquiátrico que a salvou da prisão, Alicia voltou a dizer uma palavra que fosse. Agora, Theo Faber, um novo psicoterapeuta, acaba de chegar à unidade onde ela está internada. E está decidido a fazê-la falar, mesmo que isso signifique rebuscar todo o passado de Alicia - e também um pouco do seu.
Narrado integralmente na primeira pessoa e maioritariamente pela voz de Theo - mas com uns quantos vislumbres essenciais a partir do diário de Alicia, - este é um livro em que tudo parece alinhar-se para uma sucessão de grandes surpresas. Desde as primeiras páginas, em que o amor que transborda do diário de Alicia dá lugar à revelação de um crime, à progressiva evolução de Theo na busca pela verdade e pela voz de Alicia, passando ainda pelas sombras do passado de ambos os protagonistas, há toda uma sucessão de revelações inesperadas ao longo da narrativa, sendo, naturalmente, a maior de todas o grande final. E cada revelação é como uma peça do puzzle, num percurso em que tudo parece ir encaixando na perfeição - mas não exactamente como se esperava.
Há também algo de fascinante na forma como o autor parece mergulhar de cabeça na mente das personagens, revelando profundidades insuspeitas ao mesmo tempo que põe em causa o que eles julgam saber. Afinal, o papel de Theo e Alicia faz deles narradores pouco fiáveis, pelo menos no que aos seus próprios passos diz respeito. Isto torna a história mais intrigante, não só porque só no fim sabemos realmente quem - e quando - estava a dizer a verdade, mas também porque estas personagens são mais do que imperfeitas: oscilam entre o heroísmo e a vilania ao ritmo de cada nova revelação.
Até a própria escrita contribui para reforçar este impacto, com o seu delicado equilíbrio entre um estilo directo na narração dos acontecimentos e o mergulho introspectivo na mente e nas motivações das diferentes personagens. Com Theo e Alicia no centro de tudo, claro, ou não fossem eles as vozes desta história. Mas também com uma visão naturalmente ambígua das outras personagens que faz com que, ao longo de toda a história, praticamente todos possam ser suspeitos - menos, talvez, os mais directamente implicados.
Tudo converge, pois, numa leitura intensa e cheia de surpresas, onde ninguém é tão inocente como parece e as verdades mais profundas da história vêm sempre à tona da mais inesperada das formas. Viciante, enigmático e sempre surpreendente, um livro memorável, em suma, e que não posso deixar de recomendar.
Título: A Paciente Silenciosa
Autor: Alex Michaelides
Origem: Recebido para crítica
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