Quando tinha catorze anos, Isabel viveu um grande - e não correspondido - amor por um colega mais velho e passou os anos seguintes a comparar todos os rapazes com ele. Mas as coisas estão prestes a mudar, quando numa discoteca, conhece um amigo do namorado da sua melhor amiga. Isabel não é propriamente a maior fã do Ventura, mas quando o seu caminho se cruza com o de Afonso começa a ver o porquê daquela apresentação. Ambos um pouco desenquadrados, nenhum deles parece pertencer àquele mesmo grupo que os juntou. E Afonso acaba também de protagonizar um momento dramático. Instantaneamente atraídos um para o outro, começam a descobrir-se aos olhos um do outro. Mas na juventude nada é para sempre, e os altos e baixos do amor são ainda mais irregulares...
Chama-se Raparigas Como Nós e uma das primeiras coisas a sobressair da leitura é que o título lhe assenta como uma luva. Provavelmente terá mais impacto para quem sempre viveu num meio citadino, com o mundo das festas, das discotecas e da praia ali ao virar da esquina. Ainda assim, e mesmo quando o ambiente não é assim tão familiar, há uma sensação quase imediata de proximidade com aquela jovem para quem cada ano parece uma eternidade e cujo amor de adolescência definiu os padrões para todos os relacionamentos. Há como que um delicado equilíbrio de inconsequência e dramatismo que retrata na perfeição os anos da adolescência, aqueles em que tudo é uma tragédia ou então nada tem assim tanta importância (conforme o estado de espírito).
Não se pense, porém, que é apenas uma leitura ligeira. Não. Por detrás das festas, da diversão, da partilha de momentos ternos e engraçados com namorados ou amigos, há um conjunto de questões mais profundas e marcantes, que vão desde o simples processo de crescimento e de que a vida é muito mais dura e complicada do que julgamos a uma análise particularmente certeira do mundo das drogas, passando ainda pelas mudanças de ciclo associadas a ir para a universidade ou trabalhar, pela descoberta de que uma relação vive de mais do que apenas amor e de que todas as escolhas têm consequências. Há muito material para reflexão e tudo se torna mais marcante pelo facto de haver também pontos em comum: já todos passamos pela fase em que tudo é novo. E todos tropeçamos, de uma forma ou de outra.
Mas, claro, pontos em comum à parte, trata-se de um romance e de uma história muito específica. Uma história que leva a protagonista a crescer, mas que também a faz passar por uma sucessão de grandes e pequenos momentos. Começa num registo aparentemente descontraído, que vai crescendo em emoção e intensidade para culminar num final poderosíssimo. E há sempre uma empatia, potenciada talvez pelo facto de a história ser contada pela voz de Isabel, mas também pelo equilíbrio entre o humor e a emoção, entre os momentos dolorosos e as descobertas que iluminam um dia.
É uma rapariga muito específica, sim, mas uma rapariga como nós - com os seus sonhos, anseios, paixões e desilusões. E é esta, acima de tudo, a marca que fica deste tão cativante livro: a sensação de que a história de Isabel é única, mas fala directamente a certas partes de nós. Emotivo, envolvente e cheio de momentos marcáveis, um livro para recordar, em suma. Muito bom.
Título: Raparigas Como Nós
Autora: Helena Magalhães
Origem: Recebido para crítica
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