quarta-feira, 5 de março de 2014

O Ano em que Me Apaixonei por Todas (Use Lahoz)

Aos vinte e nove anos, Sylvain está longe de ter a vida responsável e serena que julga que devia ter, na sua idade. Preso a uma relação passada, não consegue definir-se no que deseja do amor e, por isso, muito do que vive são desilusões. Agora, está decidido a recuperar essa relação que o mantém obcecado. Por isso, parte para Madrid, onde deverá ficar um ano e onde espera reencontrar Heike e recuperar ou esquecer o que tinham em comum. Mas não é assim tão simples. Entre novas amizades e as sempre presentes dúvidas, as indecisões de Sylvain continuam a ser uma constante. E, ao encontrar um manuscrito com uma história de amor, cujas figuras centrais desconhece, mas talvez venha a conhecer, começa a ponderar no que realmente quer que seja a sua vida.
Com um toque de surreal e alguns impossíveis a fazerem parte da vida e história das personagens, a primeira impressão que passa deste livro é de estranheza, de um lado improvável que quase transporta a história para outro mundo. Este tom peculiar confere à história uma certa leveza, algo de diferente que se vai manter ao longo do enredo e que, não sendo o seu centro, torna o ambiente um pouco diferente e que, por isso, desperta curiosidade. 
Mas a esta estranheza junta-se-lhe também uma certa medida de normalidade, ou da normalidade possível nas aventuras da juventude, e é do contraste entre ambas que nasce a envolvência que, mesmo nos momentos mais estranhos, mantém viva a vontade de acompanhar as tribulações e as aventuras do protagonista. Neste, aspecto, sobressai a emotividade, patente mesmo nas tais fases indecisas, mas especialmente marcante numa fase final que compensa amplamente toda a estranheza, culminando numa conclusão particularmente bem conseguida.
Ainda um outro ponto forte diz respeito à conjugação entre a história do próprio Sylvain e a que ele encontra e que diz respeito a Metodio Fournier. Interessantes individualmente pelos respectivos percursos, as duas histórias complementam-se pelas semelhanças e diferenças que contêm e, numa fase mais avançada, pela forma como se cruzam na realidade. Das histórias de ambos, é possível estabelecer paralelismos e divergências, tanto em escolhas e acções como nos traços que os caracterizam. E, por ser a história de ambos, e por tudo o que os aproxima, apesar das diferenças, a história deste livro torna-se um pouco maior, crescendo em envolvência ao ritmo do crescimento do próprio Sylvain.
Com tanto de peculiar como de surpreendente, O Ano em que Me Apaixonei por Todas apresenta uma história emotiva, com ternura quanto baste e um enredo que cativa tanto pelos improváveis como pelo que de universal há na vida das suas personagens. Leve e cativante, uma boa surpresa. Muito bom.

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