terça-feira, 11 de março de 2014

Robopocalipse (Daniel H. Wilson)

Tudo começa com um novo passo na experiência de criação de uma inteligência artificial, momento em que Archos ganha vida e assume o controlo do sistema construído pelos seus criadores. Ao princípio, ninguém se apercebe do sucedido e os sinais são ténues, difíceis de interpretar. Mas tudo muda a partir do momento em que, num mesmo instante, todas as máquinas se voltam contra os humanos e começam a espalhar caos e morte em seu redor. No centro de tudo está Archos e uma intenção que parece ser reformular o mundo sem o domínio dos humanos. Mas não está na natureza humana deixar-se cair sem luta. E, na guerra pela sobrevivência, todos serão importantes. Mesmo aqueles de quem nada se espera.
Considerando que a história que serve de base a este livro se baseia, essencialmente, no conflito entre humanos e máquinas que se voltaram contra os seus criadores, não se pode dizer que a ideia geral seja algo de particularmente inovador. Ainda assim, e apesar de se tratar de um conceito já explorado, o autor consegue conferir-lhe uma voz própria, ao dar voz a vários dos intervenientes no conflito, deste os primeiros momentos à derradeira conclusão. Não havendo grande ênfase num protagonistas, ainda que, em certa medida, se possa considerar Cormac Wallace como tal, a história expande-se para várias perspectivas, o que a torna cativante, mesmo nos elementos mais previsíveis.
Outro elemento que cativa para a leitura é o impacto emocional de certos momentos pontuais, não necessariamente nos grandes acontecimentos, mas mais em pequenas coisas. Ao percorrer fases da história de diferentes personagens, cria-se, por vezes, a sensação de uma certa distância, mais evidente à medida que o conflito se expande para uma perspectiva mais global. Mas há, no percurso de cada personagem, todo um conjunto de pequenos sucessos, perdas irreversíveis e gestos de coragem, momentos que compensam esse afastamento ao realçar as características humanas e a individualidade dessas personagens. E nem sempre estas situações se prendem com o conflito propriamente dito, mas acabam por ser, por vezes, esses pequenos momentos o que mais marca.
Ainda um outro aspecto que importa referir é que, partindo de uma relativa dispersão entre várias personagens, a história vai-se concentrando, com o evoluir do conflito, no grupo de Cormac. Disto resulta, por um lado, uma maior intensidade na fase final dos acontecimentos, mas também um conjunto de perguntas sem resposta, não só relativas às razões que motivam alguns acontecimentos, mas principalmente ao que terá acontecido a algumas personagens que vão ficando para trás. Fica, por isso, a impressão de que mais haveria a dizer sobre algumas dessas figuras relevantes, ainda que, na perspectiva global da guerra entre humanos e máquinas, todos os elementos essenciais estejam presentes.
Não sendo, pois, propriamente uma história surpreendente, Robopocalipse apresenta, ainda assim, um enredo cativante, com personagens fortes e um conjunto de momentos particularmente marcantes. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.

Sem comentários:

Enviar um comentário