quinta-feira, 6 de março de 2014

O Estranho Caso de Benjamin Button (F. Scott Fitzgerald)

Estranhezas e impossíveis como base para algumas considerações sobre a natureza humana e o que a define: assim se poderia explicar a linha geral que une os quatro contos incluídos neste livro. Contos em que o peculiar e o improvável são, em muitos aspectos, dominantes, mas que, aliados a uma escrita sempre cativante e a enredos intrigantes e envolventes, oferecem sempre algo de interessante a considerar. Diferentes na história e nos protagonistas, todos eles têm estes elementos em comum e bastam para que a leitura valha a pena. Mas vamos por partes.
Em O Diamante Tão Grande Como o Ritz, um jovem estudante trava amizade com o filho de um homem incrivelmente rico, mas cujos segredos são também vastos e inimagináveis. Bastante descritivo, mas magnificamente escrito, este conto, de longe o melhor do conjunto, conjuga uma interessante reflexão sobre a riqueza com um enredo envolvente, num ambiente que, a princípio, parece quase mágico, mas que se vai transformando.Um pouco surreal, é a estranheza que define o ambiente deste conto, contrastando com a quase normalidade com que tudo é descrito. Esta leveza realça, também, o impacto de um lado sombrio que vai sendo revelado e que abre caminho para um final impressionante.
Segue-se O Estranho Caso de Benjamin Button, história de um recém-nascido com o aspecto de um septuagenário e da sua vida enquanto cresce - e rejuvenesce. Peculiar, como seria, aliás, expectável, tendo em conta a premissa do conto, mas cativante, surpreende principalmente pela forma como considera as diferentes reacções da sociedade ante a diferença. Bizarro por natureza, não deixa, ainda assim, de ser relevante na forma como coloca as personagens a aspirar à normalidade, mesmo quando isso implica ignorar os factos. Perde um pouco pela forma apressada como percorre algumas das fases da vida de Benjamin, mas compensa com a emotividade de um final melancólico e marcante.
O Tarquínio de Cheapside trata de uma perseguição falhada e da busca de refúgio junto de um afamado leitor. Intrigante, com uma aura de mistério quase irresistível, cria expectativas e um ambiente de tensão, mas, quanto às razões para perseguição e fuga, tudo ou quase tudo é deixado por explicar. Interessante quanto baste, acaba por ser demasiado vago.
Por último, Ó Bruxa do Cabelo Avermelhado! fala de um amor platónico entre o funcionário de uma livraria e uma mulher misteriosa, e de como, de absurdo em absurdo, a vida passa. Envolvente e com um ambiente de certa estranheza que, precisamente pelo que tem de improvável, se torna intrigante, também este é um conto bastante descritivo e, por vezes, um pouco confuso. Ainda assim, o mistério em volta de Caroline mantém a envolvência e a vontade de saber mais, enquanto o enredo se encaminha para o final surpreendente que, deixando muitas questões por responder, culmina, apesar disso, numa grande revelação.
O que fica destas quatro histórias, tão peculiares como intrigantes, é, em suma, a impressão de um conjunto surpreendente, repleto de estranheza, mas pautado também por várias considerações relevantes. Agradável de ler, cativante, na generalidade, e com alguns episódios memoráveis, uma boa leitura.

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