quarta-feira, 12 de março de 2014

Vejo-te (Irene Cao)

Sem vícios, nada aventureira, dedicada ao trabalho e pouco interessada em relações amorosas, Elena corresponde, em tudo, à imagem da menina bem-comportada, por vezes, até demasiado. Mas tudo muda quando o palácio onde está a restaurar um fresco recebe um novo inquilino. Leonardo Ferrante, chef de cozinha, é um indivíduo misterioso e sedutor, e Elena sente-se imediatamente atraída. E, se é certo que ambos querem coisas diferentes, nem mesmo assim ela consegue resistir ao pacto que o atraente Leo lhe propõe ao oferecer-se para quebrar todos os seus tabus, conduzindo-a por uma jornada de descoberta sexual, mas onde nunca, em circunstância alguma, poderá nascer o amor. Seduzida pela ideia e pelo homem, Elena aceita o pacto. Mas é possível que o seu lado desconhecido não seja inteiramente bom, e ainda menos quando o tal sentimento proibido começa a insinuar-se no seu caminho.
Centrado essencialmente nos protagonistas e com o pacto entre ambos como linha essencial, este é um livro em que a relação se define, em grande medida, pelo elemento físico, ainda que complementado pelas dúvidas e hesitações, justificadas quer pela mudança, quer pela existência, ainda que relativamente discreta, de um triângulo amoroso. E, tendo isto como ponto de partida, o que surge desta leitura é uma história que consegue ser cativante e agradável, mas que, em certos aspectos, deixa sentimentos ambíguos.
No que diz respeito aos pontos fortes, sobressai, em primeiro lugar, a envolvência de uma escrita simples, mas agradável, que, mesmo quando os acontecimentos resvalam para a estranheza, nunca permite que a leitura se torne penosa. A isto junta-se uma cativante aura de mistério em torno da vida de Leonardo, da qual muito pouco é revelado, já que a história é narrada pela voz de Elena e ela pouco sabe. Neste aspecto, muito é deixado por explicar, mas cria-se uma certa expectativa para os próximos volumes da trilogia, o que torna a leitura bastante intrigante. Além disso, a mudança acelerada da vida e de forma de estar de Elena coloca-a perante algumas questões interessantes, principalmente no que diz respeito a quanto, nessa mudança, é efectivamente bom.
Os pontos fracos surgem, principalmente, em dois aspectos. O primeiro prende-se com uma fase inicial em que Elena acaba por ser arrastada entre as vontades de uma amiga não muito empática e a persuasão não muito esforçada de Leonardo. Daqui, fica a impressão de uma personalidade algo apagada e pouco segura, que, felizmente, vai evoluindo com o enredo, mas que perde um pouco pela falta de empatia. O outro ponto fraco vem da impressão de que certos elementos - de caracterização de personagens, mas também de desenvolvimento de certos episódios - não são tão aprofundados como poderiam ter sido. A ligação entre as personagens sente-se nos grandes momentos, mas parece-se apagar-se no espaço entre eles, deixando a ideia de que mais haveria a explorar sobre as suas histórias e modos de pensar.
Do equilíbrio entre forças e fragilidades, a impressão que fica é a de um início que está longe de ser perfeito, mas que, entre a escrita agradável e alguns momentos mais marcantes, consegue, ainda assim, apresentar um enredo interessante e com muito espaço para evolução. Fica, por isso, a curiosidade em saber como irá crescer a história destas personagens.

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