quarta-feira, 23 de junho de 2021

A Colina que Subimos (Amanda Gorman)

Foi um poema que andou nas bocas do mundo. Afinal, não são todos os textos - nem todos os poetas - que ocupam uma posição de relevo na cerimónia de tomada de posse de um presidente. Mas não foi a única razão para tanto se ouvir falar nele. Quem assistiu, ficou com o momento na memória. Quem não o fez... bem, tem aqui uma boa oportunidade de descobrir o poema, e o porquê de ter tido o impacto que teve no nosso por vezes tão estranho mundo atual.
É difícil encontrar um ponto por onde começar a falar sobre este livro, primeiro por ser muito breve e sobretudo porque o impacto das palavras é sobejamente conhecido. Mas um bom ponto de partida talvez seja dizer que este relativamente pequeno poema acerta em cheio nas tribulações e dificuldades que marcam o mundo atual. Claro que é mais fácil vê-las no contexto americano, até porque foi nesse contexto que ele foi escrito. Mas, se olharmos bem, não há em muitas destas questões algo de universal? Tolerância, resiliência, superação, aceitação. Reconhecimento da diferença, e também do caos que ameaça destruir e do que pode ser feito para o combater. Sim, o contexto pode ser muito específico, mas as suas aplicações são muito abrangentes.
É um livro de cerca de sessenta páginas, e difícil, talvez, de separar das circunstâncias em que o poema se tornou conhecido, pelo menos para quem o ouviu ou ouviu falar nele. Mas um olhar atento mostra que é também um texto para lá das suas circunstâncias. Lido em voz alta, é quase um apelo à ação. Mas é também uma lembrança do poder das palavras para mudar o mundo, da força da poesia para dar a voz certa às coisas que nem sempre são fáceis de dizer. E, mais uma vez, pode ter um contexto específico, mas com repercussões que o transcendem.
Às vezes, a brevidade esconde insuspeitas profundezas. Neste caso, esconde um olhar certeiro e completo aos problemas e desafios dos Estados Unidos em particular e também do mundo em geral. E, além de visão, abrange também luta e otimismo, beleza e admiração pela complexidade da vida. Porque subir a colina implica coragem. E é essa mesma coragem que transborda das palavras deste poema.

Sem comentários:

Enviar um comentário